Eu dirigia o meu carro tranquilamente pelo interior do Paraná, a caminho de Londrina. De repente, uns 200 metros a minha frente, um homem de bicicleta que seguia pelo acostamento balançou e despencou numa ribanceira.
Levei o maior susto. Acelerei o carro e me aproximei do local pra ver o que tinha acontecido. Parei, sinalizei a estrada, e fui dar uma espiada. Só consegui enxergar a bicicleta e o homem caído ao lado dela. Fiquei com medo de descer lá sozinho. Nesse meio tempo, eu liguei para a Polícia Rodoviária, que atendeu prontamente o meu chamado e informou que uma viatura já estava a caminho.
Quando os policiais chegaram, imediatamente perguntaram o que tinha acontecido e eu dei a minha versão. Pra minha surpresa, o policial olhou pra mim e disse: "não saia daqui, o senhor é suspeito de atropelamento". E em seguida ele disse: "o seu veículo está apreendido".
Pensei comigo: "a casa caiu".
Enquanto um dos policiais descia o barranco para socorrer o homem, o segundo policial começou a circular o meu carro e a passar a mão na lataria tentando achar algum amassado. Ele não precisou ir muito longe. Numa das portas - e bem do lado da estrada onde o homem tinha caído - tinha um amassado que eu já carregava há uns dois anos. Quando o policial viu aquele amassado, ele veio pra cima de mim ainda mais furioso. Tentei me explicar, mais foi em vão. Eu fui me desesperando com a situação. Era o cúmulo do azar, mas a casa realmente estava caindo. Mas eu era inocente, eu juro!!!
Em seguida, desci o barranco com os policiais pra tentar socorrer o homem caído. Quando chegamos lá embaixo e começamos a mexer no homem, ele acordou falando meio enrolado. Estava visivelmente bêbado. Eu comecei a gritar pro homem: "conte pros policiais o que te aconteceu, conte!!!"
Apesar do estado em que se encontrava, ele conseguiu dizer aos policiais que tinha exagerado na bebida, que mal se equilibrava na bicicleta e que tinha despencado sozinho naquela ribanceira. Ele conseguiu deixar bem claro que eu não tive qualquer participação no incidente.
Minha reação inicial foi querer bater no bêbado, mas os policiais me seguraram. Depois, mais calmo e aliviado, ajudei os policiais a tirarem o homem e a bicicleta daquele buraco.
Quando eu já me despedia dos policiais em direção ao meu carro, o bêbado gritou: "ô moço, dá uma carona pra mim e pra bicicleta até a minha casa?" Não hesitei: mandei o bêbado pra #@*&%$, enquanto os policiais rachavam o bico de dar risada.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
quarta-feira, 13 de abril de 2011
O primeiro dia de aula no novo colégio.
Era o começo de 1988 e eu estava prestes a ingressar no ensino médio. Até então, eu sempre tinha estudado em escolas públicas, numa cidade pequena. Mas agora a mudança seria grande. Eu iria pra um colégio particular, numa cidade maior, em busca de melhor preparo visando o vestibular dalí a três anos. O objetivo era ser aprovado numa universidade pública já na primeira tentativa.
Esse novo colégio estava na moda, era badalado, cheio de gente com grana, tudo muito diferente da minha realidade. Eu me sentia inseguro até mesmo com o tipo de roupa que eu deveria vestir pra estudar lá, já que até isso seria novidade pois eu estava acostumado com o uniforme azul e branco da escola pública estadual.
Na minha cidade, havia um ônibus estudantil que pegava os alunos às 6h20 da manhã na praça central da cidade e os deixava na porta do colégio. Eu sabia que teria que acordar cedo, por volta de 5h45, pra não correr o risco de perder aquele ônibus. Caso eu perdesse esse ônibus, seria o maior transtorno pra pegar um ônibus de linha que me levasse até a estação central dessa outra cidade e, de lá, pegar outro ônibus até o colégio.
Finalmente o primeiro dia de aula no novo colégio chegou. Acordei cedo, assustado pois ainda estava escuro, me arrumei rapidamente, peguei o meu material e saí correndo pra pegar o tal ônibus estudantil sem sequer tomar o café da manhã. Percorri umas três quadras até o ponto do ônibus e... perdi o ônibus!!! Logo no primeiro dia!!! Acho que calculei mal o meu tempo.
Me bateu um desespero. Quando olhei pra trás, percebi que uma amiga-vizinha vinha correndo em direção ao ponto, com cara de assustada, pois também tinha percebido que o ônibus já tinha passado. Mas aí ela me deu uma boa notícia. Ela disse que o pai trabalhava no centro dessa outra cidade e que, se a gente corresse até a casa dela, a gente ainda conseguiria pegar uma carona com ele. Ele nos levaria até o novo colégio sem que a gente se atrasasse.
Acontece que o pai da minha amiga tinha um Ford Corcel 1 alaranjado - o mais alaranjado possível, diga-se de passagem, bem antigo, imagino que mais ou menos ano 74. Embora hoje eu goste de carros antigos, naquela época, aos 14 anos de idade, eu achava ridículo qualquer Ford Corcel 1, ainda mais se fosse alaranjado. Chegar no novo colégio no primeiro dia de aula num carro assim seria a morte pra mim.
Pois é, morri. De vergonha. O pai da minha amiga, todo atencioso, fez questão de parar o carro bem na porta do colégio. E era o momento do rush. Imagine só como eu e minha amiga nos sentimos descendo do Corcel 1 alaranjado no meio de todos aqueles carrões. E isso bem no primeiro dia de aula, assustado e sem conhecer ninguém. Desci do carro roxo de vergonha e entrei rapidamente no colégio, tentando não chamar muita atenção.
Se bem que, a essa altura, o que poderia chamar mais atenção do que o Corcel 1 alaranjado???
Esse novo colégio estava na moda, era badalado, cheio de gente com grana, tudo muito diferente da minha realidade. Eu me sentia inseguro até mesmo com o tipo de roupa que eu deveria vestir pra estudar lá, já que até isso seria novidade pois eu estava acostumado com o uniforme azul e branco da escola pública estadual.
Na minha cidade, havia um ônibus estudantil que pegava os alunos às 6h20 da manhã na praça central da cidade e os deixava na porta do colégio. Eu sabia que teria que acordar cedo, por volta de 5h45, pra não correr o risco de perder aquele ônibus. Caso eu perdesse esse ônibus, seria o maior transtorno pra pegar um ônibus de linha que me levasse até a estação central dessa outra cidade e, de lá, pegar outro ônibus até o colégio.
Finalmente o primeiro dia de aula no novo colégio chegou. Acordei cedo, assustado pois ainda estava escuro, me arrumei rapidamente, peguei o meu material e saí correndo pra pegar o tal ônibus estudantil sem sequer tomar o café da manhã. Percorri umas três quadras até o ponto do ônibus e... perdi o ônibus!!! Logo no primeiro dia!!! Acho que calculei mal o meu tempo.
Me bateu um desespero. Quando olhei pra trás, percebi que uma amiga-vizinha vinha correndo em direção ao ponto, com cara de assustada, pois também tinha percebido que o ônibus já tinha passado. Mas aí ela me deu uma boa notícia. Ela disse que o pai trabalhava no centro dessa outra cidade e que, se a gente corresse até a casa dela, a gente ainda conseguiria pegar uma carona com ele. Ele nos levaria até o novo colégio sem que a gente se atrasasse.
Acontece que o pai da minha amiga tinha um Ford Corcel 1 alaranjado - o mais alaranjado possível, diga-se de passagem, bem antigo, imagino que mais ou menos ano 74. Embora hoje eu goste de carros antigos, naquela época, aos 14 anos de idade, eu achava ridículo qualquer Ford Corcel 1, ainda mais se fosse alaranjado. Chegar no novo colégio no primeiro dia de aula num carro assim seria a morte pra mim.
Pois é, morri. De vergonha. O pai da minha amiga, todo atencioso, fez questão de parar o carro bem na porta do colégio. E era o momento do rush. Imagine só como eu e minha amiga nos sentimos descendo do Corcel 1 alaranjado no meio de todos aqueles carrões. E isso bem no primeiro dia de aula, assustado e sem conhecer ninguém. Desci do carro roxo de vergonha e entrei rapidamente no colégio, tentando não chamar muita atenção.
Se bem que, a essa altura, o que poderia chamar mais atenção do que o Corcel 1 alaranjado???
sexta-feira, 8 de abril de 2011
No meio do caminho: a curva da vida.
Depois que eu completei 35 anos - e já faz quase três anos, eu comecei a pensar bastante em como será chegar aos 40. O tempo está passando cada vez mais depressa e daqui a pouco faltarão apenas mais 2 anos.
Sinceramente, eu não tenho medo da famosa crise dos 40. Até porque eu já tive uma baita crise quando cheguei aos 30, crise que eu considero insuperável.
Quando eu cheguei aos 30, eu tentei fazer uma retrospectiva sobre tudo o que eu tinha vivido e conquistado até então. E me apavorei. Percebi que eu não tinha o emprego que eu sonhei, não morava no lugar que eu sonhei, não tinha viajado pros lugares que eu sonhei. Me senti frustrado e fiquei mal. Pouco tempo depois, tive outra grande frustração - a maior de todas - e fiquei mal novamente. Dessa vez foi a maior frustração que eu poderia ter em minha vida: o fim do meu casamento. Sentimento de frustração misturado com impotência e incompetência. Difícil de explicar. Mais difícil ainda de entender.
Mas o mais interessante de se estar chegando aos 40 é começar a imaginar se a gente já chegou na "metade do caminho". Quer dizer, nesse ano eu completo 38 anos, e se eu viver 76 anos, eu estaria nesse momento atingindo exatamente a metade do caminho. Viver 76 anos é bastante tempo. Dá pra fazer muita coisa. É legal pensar em tudo o que eu já fiz na primeira metade da vida, mas mais legal ainda é pensar em tudo que eu ainda posso fazer. Pelo menos no meu caso, é uma fase ou momento de otimismo.
Seria chato se eu sentisse que já passei da metade do caminho. Mas, felizmente, eu sinto que ainda nem cheguei nessa metade da vida. Principalmente, quando eu penso nos avanços da medicina e nas novas tecnologias. Acho até que, com um pouco de cuidado com a saúde, a minha geração vai chegar fácil nos 100 anos de idade. E com uma certa qualidade de vida.
Mas o melhor de tudo é que, quando a gente vai se aproximando dos 40, a gente já não pensa muito naqueles sonhos que não conseguiu realizar. Pelo contrário, a gente enxerga e se contenta com outras conquistas importantes e valiosas que se tornaram realidade na nossa vida. O que a gente fez de bom até aqui acaba se tornando muito mais importante do que o que a gente deixou de fazer. Hoje eu tenho o mesmo emprego que eu tinha quando completei 30 anos e estou feliz com ele. Hoje não importa onde eu more ou esteja pra que eu tenha os meus momentos especias de felicidade, ainda mais quando os meus filhos estão perto de mim.
Nessa fase, apesar de ainda fazer planos, a gente consegue manter os pés no chão e viver mais o hoje, ao invés de ficar ansioso pensando apenas no amanhã.
Sinceramente, eu não tenho medo da famosa crise dos 40. Até porque eu já tive uma baita crise quando cheguei aos 30, crise que eu considero insuperável.
Quando eu cheguei aos 30, eu tentei fazer uma retrospectiva sobre tudo o que eu tinha vivido e conquistado até então. E me apavorei. Percebi que eu não tinha o emprego que eu sonhei, não morava no lugar que eu sonhei, não tinha viajado pros lugares que eu sonhei. Me senti frustrado e fiquei mal. Pouco tempo depois, tive outra grande frustração - a maior de todas - e fiquei mal novamente. Dessa vez foi a maior frustração que eu poderia ter em minha vida: o fim do meu casamento. Sentimento de frustração misturado com impotência e incompetência. Difícil de explicar. Mais difícil ainda de entender.
Mas o mais interessante de se estar chegando aos 40 é começar a imaginar se a gente já chegou na "metade do caminho". Quer dizer, nesse ano eu completo 38 anos, e se eu viver 76 anos, eu estaria nesse momento atingindo exatamente a metade do caminho. Viver 76 anos é bastante tempo. Dá pra fazer muita coisa. É legal pensar em tudo o que eu já fiz na primeira metade da vida, mas mais legal ainda é pensar em tudo que eu ainda posso fazer. Pelo menos no meu caso, é uma fase ou momento de otimismo.
Seria chato se eu sentisse que já passei da metade do caminho. Mas, felizmente, eu sinto que ainda nem cheguei nessa metade da vida. Principalmente, quando eu penso nos avanços da medicina e nas novas tecnologias. Acho até que, com um pouco de cuidado com a saúde, a minha geração vai chegar fácil nos 100 anos de idade. E com uma certa qualidade de vida.
Mas o melhor de tudo é que, quando a gente vai se aproximando dos 40, a gente já não pensa muito naqueles sonhos que não conseguiu realizar. Pelo contrário, a gente enxerga e se contenta com outras conquistas importantes e valiosas que se tornaram realidade na nossa vida. O que a gente fez de bom até aqui acaba se tornando muito mais importante do que o que a gente deixou de fazer. Hoje eu tenho o mesmo emprego que eu tinha quando completei 30 anos e estou feliz com ele. Hoje não importa onde eu more ou esteja pra que eu tenha os meus momentos especias de felicidade, ainda mais quando os meus filhos estão perto de mim.
Nessa fase, apesar de ainda fazer planos, a gente consegue manter os pés no chão e viver mais o hoje, ao invés de ficar ansioso pensando apenas no amanhã.
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