Eu cheguei a uma parada de ônibus perto da Plaza de la Revolucion, em Havana, e me assustei com a velha senhora que discursava para ninguém, falando bem alto, com uma voz forte e rouca, gritando palavras incompreensíveis. Era uma senhora de cabelos brancos, talvez nem tão idosa, mas com uma aparência bem sofrida e castigada pelo tempo. Enquanto ela falava, agitava um pedaço de papel em uma das mãos. Meu pai estava comigo e se surpreendeu quando eu me aproximei e me sentei bem ao lado dela. Meu sentimento era de receio, mas também de curiosidade e uma certa compaixão. Perguntei o que estava acontecendo, se ela estava com algum problema, e ela desandou a contar a história de sua vida.
Enquanto ela falava e se emocionava, lágrimas corriam de seus olhos. Ela contava que sua vida tinha sido muito difícil desde pequena, e especialmente após a revolução. Tinha sofrido muito durante a infância, com seu pai. Depois, já adulta, o sofrimento continuou nas mãos de seu marido. Também disse que tinha sido torturada durante a revolução e que hoje tinha problemas psiquiátricos, e que estava voltando de uma consulta médica com aquela receita de medicamento na mão, mas que o remédio não tinha sido fornecido pelo governo e nem estava disponível em alguma farmácia da ilha, ainda que tivesse o dinheiro necessário para comprá-lo. Conversamos por quase meia hora, antes que o meu ônibus chegasse. No final da conversa, ela já estava mais calma, falava de forma mais pausada, como se tivesse desabafado. Aqueles minutos de conversa foram um privilégio pra mim. Retrato de um povo marcado pela dor e o sofrimento.
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