A Universidade Estadual de Londrina completa 40 anos.
É um momento de celebração e de reflexão, pois se trata de uma das mais importantes universidades do país, recentemente classificada como a 61a melhor universidade da América Latina.
Mas, afinal, o que é a UEL? Pra que serve a UEL? Quem faz a UEL?
Nos últimos 20 anos, eu sempre mantive uma certa proximidade com a universidade. Além de mim, meus pais e minha irmã se graduaram lá, sem contar os tios e primos. Por isso, para a minha familia, a UEL envolve até questões sentimentais. Meus pais eram estudantes da UEL no momento de sua criação (ou transformação em universidade) há 40 anos. E eu pude acompanhar alguns fatos e acontecimentos desses últimos 20 anos - portanto, metade dessa existência.
Teoricamente, a UEL deveria focar primordialmente o ensino e a pesquisa. Ensino universitário deveria significar a formação eficiente de profissionais nas mais variadas áreas. Nesse processo, a UEL deveria dar ao aluno as condições necessárias ao seu aprendizado e formação com um mínimo de conforto e tranquilidade.
Quando eu fiz o curso de Direito, no início da década de 90, eu tinha aulas nos centros denominados CESA e CCH. Hoje, no curso de Filosofia, tenho aulas no CCH. Então eu vou usar o CCH como exemplo pra refletir um pouco sobre a UEL.
Infelizmente, posso afirmar que muito pouca coisa mudou na estrutura do CCH nesses 20 anos. Nesse período, alguns prédios novos foram acoplados ao CESA e ao CCH. Mas os prédios antigos continuam praticamente os mesmos, salvo pequenas reformas que tantaram disfarçar um pouco a precariedade dos edifícios. O CCH é composto de três prédios grandes e principais.
Por exemplo, no prédio antigo e mais alto do CCH, não há acesso para deficientes físicos aos andares superiores. E há apenas um banheiro masculino e um feminino para o prédio todo. Banheiros que, por sinal, são antigos, sujos, fedidos e mal conservados. Sempre. Eram assim há 20 anos, e continuam assim nos dias de hoje. Papel higiênico ou toalhas de papel para enxugar as mãos são objetos raros naqueles locais, pelo menos no período noturno. Sei lá, talvez pensem que os alunos da noite não lavam as mãos ou não limpam a... deixa pra lá.
No prédio mais novo do CCH, onde funciona a parte administrativa, também há apenas um banheiro masculino e um banheiro feminino. E o prédio também é relativamente grande. Mas aí vem a melhor notícia: esses banheiros ficam fechados! E só os funcionários e professores é que podem usá-los (mas, pera lá, pra quem é a UEL mesmo???).
Algo inusitado, pra não dizer triste, aconteceu em 2010 no CCH: enquanto o prédio que fica próximo do CESA foi reformado e os banheiros desse prédio ficaram fechados pra reforma por meses - durante o período letivo, diga-se de passagem (ao invés de fazer a reforma nas férias), todos os alunos que estudam nesse centro tinham apenas um único banheiro pra utilizar (lembrando que os banheiros do prédio mais novo só podem ser usados por funcionários e professores). Aquele mesmo banheiro velho, sujo, mal conservado, que raramente tem "papel".
No início de 2011 e também no início do segundo semestre, na volta às aulas após as férias, nós tivemos uma grande surpresa ao encontrar as salas de aula do CCH sujas. Isso mesmo: completamente sujas. Levamos quase um mês pra limpar as carteiras usando as nossas roupas. Parece exagero? Pois bem, ainda hoje essas mesmas salas continuam sujas, como se não fossem limpas há anos. Além da sujeira, muitas carteiras estão quebradas ou remendadas. É provável que falte algum "pedaço" em pelo menos metade das carteiras encontradas no CCH. Sem contar que as carteiras são extremamente desconfortáveis. Mas aí já seria pedir demais, né? (detalhe: os funcionários da UEL possuem carteiras confortáveis - mas os funcionários são os funcionários)
Há poucos recursos extras pra ser utilizados em sala de aula (recursos audiovisuais, por exemplo). A utilização desses recursos é pouco funcional. E, além disso, existe uma certa burocracia pro uso desses recursos. Quer dizer, na prática, quase nunca são utilizados.
Mas porque eu estou dizendo tudo isso? Pra que levantar todos esses pontos negativos e problemáticos a respeito de uma universidade tão bem conceituada?
A minha intenção é destacar especialmente dois pontos. Primeiro, que a UEL é feita pelos seus alunos e por uma parte dos professores. O mérito não é da UEL, mas sim dos alunos que lá estudam ou estudaram, e de alguns professores que confundem suas vidas com a da própria universidade. A UEL simplesmente não faz a parte dela. Em muitos centros, a UEL não fornece o mínimo necessário pra que os alunos estudem com o mínimo de conforto e tranquilidade. Vários cursos da área de ciências humanas são "compostos" simplesmente pelo professor, pela sala precária e suja e pelos alunos. Nada além disso. O eventual sucesso ou o bom conceito desses cursos (como Direito, Economia, Administração, Filosofia, História ou Ciências Sociais, por exemplo) é resultado exclusivo do esforço intelectual e pessoal dos alunos e professores (mais dos alunos do que dos professores - as estatísticas mostram que a produção científica dos professores da UEL, de modo geral, é baixa comparada a países ditos desenvolvidos).
Em segundo lugar, porque a UEL é uma grande cidade. Tem até prefeito do campus. Possui orçamento maior do que o de muitos municípios de porte médio espalhados pelo estado. Possui uma "população" maior (considerando alunos, professores, funcionários, colaboradores etc) do que metade dos municípios do estado. Mas o que é pior: a UEL existe, antes de tudo, pra sustentar essa estrutura política e administrativa. Esse é o foco principal. O funcionário da UEL é mais importante do que o aluno, principalmente o funcionário das carreiras administrativas. Parece que o corporativismo é mais presente do que em qualquer outro orgão público.
Claro que existe sim ensino e pesquisa. Mas o ensino e a pesquisa não são o objetivo principal da universidade. Infelizmente.
Nem tudo é festa. Ainda assim, parabéns UEL! Mas, em primeiro lugar, parabéns àqueles que realmente fazem a UEL!!!
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