sexta-feira, 2 de abril de 2010

"Causos" da justiça

Eu vou aproveitar esse espaço pra contar alguns "causos" que vivenciei no meu trabalho como Oficial de Justiça, da Justiça do Trabalho. Volta e meia me ocorre alguma situação de risco, mas também alguma situação cômica. Quando vim transferido pra Londrina, há mais de 7 anos atrás, na primeira semana de trabalho eu recebi um mandado de condução coercitiva. Esse tipo de mandado é expedido quando uma testemunha, intimada a comparecer espontaneamente, falta à audiência e o juiz se vê obrigado a marcar outra audiência mas, por precaução e para evitar outro adiamento, determina que um oficial de justiça a conduza até a sala de audiências, coercitivamente, acompanhado de força policial. Pois bem, logo que comecei a trabalhar em Londrina, eu percebi que havia um número excessivo deste tipo de mandado para ser cumprido na cidade. Em algumas semanas eu chegava a receber 2 ou 3. Numa das primeiras oportunidades, perguntei àquela testemunha faltosa o porque de não ter comparecido à primeira audiência. Aí veio a surpresa: "o adevogado falou que, se eu faltasse à primeira audiência, na segunda viria um oficial de justiça de carro até a minha casa e me daria carona pra chegar ao fórum". Entendi. Então o "adevogado" disse que o Sr. teria "carona" no carro do oficial de justiça. Na próxima oportunidade, assim que recebi o mandado, solicitei apoio da polícia para cumprir aquela ordem judicial. Na data marcada, me dirigi até a residência daquela testemunha, acompanhado pela polícia. Bati palmas, a pessoa veio me atender e disse que estava pronta pra me acompanhar. Pedi que entrasse na "viatura" e a testemunha se espantou: "Eu não vou entrar nessa viatura! Se for pra ir de viatura, eu prefiro ir dirigindo o meu próprio carro", respondeu o cidadão. Eu expliquei que a oportunidade de ir dirigindo o próprio carro ele já tinha perdido quando a primeira audiência foi realizada. E que dessa vez as únicas opções que ele tinha pra escolher era entre "ir algemado" ou "sem algemas", em ambos os casos, na viatura policial. Ele escolheu entrar na viatura sem algemas, mas resmungando e xingando bastante. E, quando chegou ao fórum trabalhista, fez um escândalo e partiu pra cima do "adevogado" e da parte que o havia indicado como testemunha naquele processo. A notícia se espalhou entre os advogados. Resultado: atualmente é raríssima a expedição de mandados de condução coercitiva. Quando uma testemunha falta sem justificativa, geralmente é porque teve algum problema ou realmente se esqueceu da data da audiência. Cheguei à conclusão de que ninguém gosta de "passear" de viatura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário