sábado, 3 de abril de 2010

Cuba: a farsa e a miséria

Há algum tempo eu queria escrever sobre Cuba. E há algum tempo eu queria conhecer Cuba, sonho que eu consegui realizar em 2009. Quando comecei a organizar a viagem, eu fiz questão de escolher formas de estar em contato com o povo cubano. Por isso, me hospedei por 5 dias em uma casa de familia, em pleno bairro histórico Habana Vieja. Essas casas de familia tem autorização para hospedar estrangeiros, mediante o pagamento de uma taxa mensal ao governo. Há regras: estrangeiros não podem receber visitas de cubanos nessas casas (pra se evitar a prostituição), e cada quarto disponível pode hospedar apenas 1 ou 2 pessoas. Essas casas tem autorização para oferecer hospedagem e o café da manhã, mas não podem oferecer as refeições (embora todas a façam ilegalmente). Eu não podia imaginar que um país pudesse ser tão corrupto como Cuba. É o lugar onde tudo é proibido, mas tudo é possível se vc "pagar". Em Cuba não há quase nada, a população se alimenta apenas de pão, arroz, frango, batata, abóbora e uns poucos legumes. Mas se a pessoa "pagar", ela tem acesso a absolutamente tudo. Desde lagosta (cuja pesca é proibida) até mulheres. Tudo entregue na porta do hotel ou da casa alugada. Há 2 moedas: o peso cubano e o CUC - peso conversível, dinheiro usado pelos estrangeiros. Os cubanos recebem em média 500 pesos cubanos de salário mensal (que equivalem a uns US$20,00). Cada CUC vale aprox. 1 Euro. Há sempre 2 tipos de comércio: um pros cubanos, que utilizam o peso cubano como moeda; e aqueles destinados aos estrangeiros, que utilizam o CUC como moeda. No comércio destinado aos cubanos, subsidiado, só os cubanos podem adquirir alimentos, tudo controlado e limitado (através de caderninhos). Os preços são simbólicos, centavos, de modo que, ao final do mês, ainda sobra parte daquele salário de US$20,00. Pra se ter uma idéia, nas padarias dos cubanos havia apenas um tipo de pão disponível, e não havia qualquer tipo de doce à venda. Nas padarias destinadas aos estrangeiros, uns 3 tipos de pães bem simples, e uns 3 ou 4 tipos de doces, também simples. Nos restaurantes que atendem os estrangeiros uma refeição sai em média 20 CUCs (que equivalem a 20 Euros, ou ao salário mensal de um médico cubano - US$25,00). E a comida era simples, limitada. Uma das coisas que eu mais estranhei era a quantidade relativamente pequena de carros nas ruas. Havia carros novos, além daqueles antigos que estamos acostumados a ver nos filmes. Também estranhei a variedade das cores das placas dos carros - umas 7 ou 8 cores diferentes. Nos primeiros dias, tentei que alguém me explicasse a diferença, mas as pessoas simplesmente se recusavam a responder qualquer pergunta que eu fizesse. Até que, no penúltimo dia, eu consegui conversar com uma menina de aprox. 18 anos que, num final de tarde, fazia ginástica na calçada perto da casa onde eu estava hospedado. Puxei conversa, ela se aproximou e se apresentou. Disse que era uma soldado do exército cubano, e exibiu suas credenciais. Fiquei espantado. Enquanto a gente conversava, uma moto se aproximou com um homem e uma mulher na garupa. Ela conversou com essas duas pessoas e, depois que partiram, me explicou que era sua mãe e seu padrasto. Eu tinha ouvido um boato de que era proibido pro cidadão comum ser proprietário de um veículo em Cuba, e perguntei a ela porque a sua mãe podia ter uma moto. Ela me explicou que funcionários do governo não só podiam ter um veículo, como também esse veículo era fornecido, mantido e abastecido pelo governo. E disse que sua mãe era uma espécie de "controladora de massas". Ela explicou que em cada quarteirão há um "controlador de massa", espécie de fiscal (me pareceu simplesmente o "dedo-duro" do quarteirão), que controlava e fiscalizava tudo o que acontecia naquela redondeza. Ela também me explicou que, dependendo do cargo ocupado, a pessoa poderia possuir um tipo diferente de carro e, por isso, as cores diferentes das placas. Tudo bancado pelo governo, só pros apadrinhados. Havia também carros com placas de embaixadas, e uma certa cor de placa era destinada àquelas pessoas que vinham estudar na ilha e que traziam o seu carro para usar enquanto estivessem ali - obviamente, pessoas com muita grana. Pelas ruas das cidades há outdoors enaltecendo a democracia e os ideais da revolução. Mas, nas ruas, as pessoas se recusam a conversar com estrangeiros, exceto para pedir dinheiro ou tentar aplicar algum pequeno golpe. Nada democrático. Deu pra perceber que Cuba vive hoje do dinheiro trazido pelos turistas e também da ajuda internacional daqueles países que ainda se sensibilizam com as condições do país. Pura farsa: os membros do partido e os funcionários do governo vivem como reis, cheios de regalias e infinitos benefícios. Mas a população vive na miséria. Parte da população ainda vive na ilusão criada pelos ideais da revolução. Outra parte vive com medo de abrir a boca e se conforma com a situação de miséria. O pouco alimento que o país produz é vendido de forma subsidiada à população que sobrevive com o mínimo do mínimo. É o básico do básico. Os cubanos parecem fortes e saudáveis, mas vivem apenas com o pão, arroz, feijão, frango e uns poucos legumes. Lá tudo é nivelado: por baixo. Estava me esquecendo de contar: no final da conversa com aquela menina, eu perguntei o porque de ela ter sido tão simpática e ter respondido as minhas perguntas. Ela respondeu que eu era um "namorado" em potencial e que um dia poderia tirá-la da ilha de alguma forma. Triste. Conhecer Cuba é interessante, marcante. É um lugar pra se visitar uma vez na vida, mas um lugar que não deixa saudade.

7 comentários:

  1. O que os comunistas mais querem é eliminar a classe media de um país, a burguesia que eles odeiam tanto por que assim fica apenas a classe pobre e a classe dominante e é isso que o PT está fazendo aqui no Brasil...

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  2. "Os preços são simbólicos, centavos, de modo que, ao final do mês, ainda sobra parte daquele salário de US$20,00. "

    políticos corruptos..aqui temos aos montes..regalias?..aqui os nossos tem aos montes...

    mas aqui o povo morre de fome...e se ilude com luxos que nunca terão..como os cubanos...

    eles sofrem um embargo o que limita a entrada de alimentos...

    pq vc nem citou os problemas causados pelo embargo americano?


    Cuba eh um país pobre sim..claro que eh...mas eh o único pais pobre onde ninguém morre de fome ou de sede...onde nenhuma criança dorme na rua...

    eh triste ler tudo isso...não deveria ser assim...mas tbm não podemos criticar Cuba no sentido de exaltar esse nosso sistema que cria parasitas políticos ainda piores e onde nossas crianças morrem de fome...

    esse país tem uma historia..uma educação invejável...e merece ser reconhecido tbm por isso...

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  3. Por onde você andou???? Algumas coisas das quais você falou são verdadeiras, existem aspectos péssimos da realidade cubana como o apartheid financeiro que acontece, o fato de que o povo precisa viver com o básico do básico, a forte censura, etc. etc... No entanto, o que mais me tocou em Cuba foi a recepção que tive do povo. Poder entrar em uma loja, sentar num café ou até mesmo em um taxi, e conversar sobre qualquer assunto, até mesmo sobre a economia e como as coisas estão indo no país. O clima cordial nas ruas, a alegria apesar da dureza da realidade. E não, NÃO falavam comigo só pra me tirar dinheiro ou por ser um namorado em potencial de alguma cubana. É triste você ter tido essa sorte tentando se comunicar com o povo. Sim, é verdade que muitos vêem os turistas como carteiras ambulantes, afinal de contas nosso orçamento diário de viagem se aproxima a um ou dois salários seus, e alguns tentarão tirar vantagem disso. Porém, isso nem chega a atrapalhar, basta dizer Não, e essa abordagem infeliz sequer vai se tornar violenta, como aconteceria no Brasil - a lei cubana é muito severa e de forma especial com relação aos delitos contra turistas.
    Além disso, apesar da escassez, apesar do """atraso""", apesar da censura... viver em uma sociedade livre do consumismo, com pouco impacto ambiental, e onde os serviços públicos no âmbito da educação e saúde básicos existem DE FATO (diferentemente do nosso país, irônicamente a 5ta maior economia do mundo) não pode ser julgada um total inferno, pensemos bem.
    Eu saí de lá otimista. Não pelo socialismo científico, que, convenhamos, não tem muita esperança. Mas pelo povo cubano, que, apesar das dificuldades, não perdeu a alegria de viver, e não abandona, apesar do ceticismo, as possibilidades de um futuro melhor, e não tão distante. Para mim, Cuba sim deixou saudade. Torço por esse país, e pretendo voltar em breve.
    Sinto muito pela péssima experiência que você parece ter tido. É, sinceramente, lamentável você ter trazido de lá essas impressões. E é também lamentável alguns leigos utilizarem-nas como confirmações de uma ideia preconceituosa imposta pelo sistema ocidental pro-EUA que rege nossas vidas.
    Para constar, estive 9 dias em Havana e mais uns 4 em Pinar del Río, no interior.

    Espero que meu modesto depoimento os faça pensar.

    Saudações,

    Enrique Taborda

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    1. pelo amor de deus, vamos acabar com essa utopia que provem de do sistema politica de esquerda: igualdade a todos os homens. todos os países que aderiram ao comunismo se tornaram totalitários, e exploradores. eu não acredito na esquerda, nem na extrema esquerda. concordo que o capitalismo também causa estragos, e marginaliza uma maioria, pois a transforma em mao de obra...mas nada se compara a um regime onde tudo pertence ao estado, e não possibilidade de ascensão social. isso é terrível!! e o artigo eh interessante abraços.

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  4. Quem gosta da miséria cubana é o típico idiota subdesenvolvido! Miseráveis socialistas brasileiros só podem gostar também da miséria!

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