segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mudanças

Outro dia meu pai me chamou de retrógrado. Talvez tivesse sido mais leve se tivesse me chamado apenas de conservador. Conservador dá a idéia de alguém parado no tempo. Mas retrógrado é pior: dá a idéia de alguém que retroage no tempo.
Foi inevitável refletir sobre o assunto. E o otimismo que me mantem vivo me fez enxergar alguns aspectos positivos no comentário dele. Ou, pelo menos, a minha ótica foi positiva. Em primeiro lugar, a vida é constantemente sujeita a mudanças. Pra melhor ou pra pior. Não há como fugir disso enquanto estivermos vivos (até porque depois, dizem, é dessa pra uma melhor). Assim, só cabe a nós nos adaptarmos às mudanças que ocorrerão.
Há dois anos atrás eu passei pela mudança mais brusca de toda a minha vida. Por mais previsível que a situação geradora da mudança fosse, no fundo, a gente nunca espera que aquilo realmente aconteça. Mas aconteceu. Minha vida mudou absurdamente. No início, fiquei totalmente sem rumo. Tive que me adaptar em todas as áreas possíveis da minha vida. Em muitos momentos, achei que não fosse ter forças para sobreviver a tantas mudanças. Mas eu sobrevivi. Quase sempre a gente sobrevive. Já dizia Sêneca, o moço: "Silêncio, paciência e tempo". Tenho uma certa dificuldade em me manter em silêncio, mas gosto especialmente da parte que trata da paciência e do tempo. Acredito que com o tempo tudo se ajeita. E com um pouco de paciência tudo fica mais fácil.
Eu sei que é difícil manter a calma depois que uma crise já se instalou. Então o mais interessante talvez seja estar preparado para quando uma crise chegar, para quando a mudança estiver para acontecer, já que sabemos que elas serão inevitáveis, quase sempre inadiáveis, pois fazem parte da vida. Se estivermos preparados para as mudanças, vai ser muito mais fácil, rápido e menos traumático passar pelo processo de adaptação. E as chances de que essa mudança seja "para melhor" aumentarão consideravelmente. No meio do meu processo pessoal de adaptação às mudanças, eu tive que tomar várias decisões. Acertei em algumas, errei em outras. Mas, passados dois anos, agora eu posso reconhecer melhor o que realmente importa pra mim, o que realmente tem valor para a minha vida. E, talvez, por isso, meu pai tenha me chamado de retrógrado.
De fato, eu estou tentando retroagir e resgatar alguns princípios e valores que eu carreguei durante grande parte da minha vida, mas dos quais estive afastado durante os momentos difíceis. Também estou tentando resgatar amizades de infância, sonhos que eu tinha quando era criança. Eu estou retroagindo sim, mas apenas para resgatar as coisas boas e de valor que eu tinha deixado pelo caminho. No fim das contas, acabei aceitando o "retrógrado" como um elogio. Gostei.

3 comentários:

  1. Adorei o texto. Gosto muito de ler experiências.
    Silêncio, paciência e tempo. Não vou mais esquecer disso.
    Silêncio é ótimo para que ninguém interfira na sua linha de raciocínio e você não se perca.
    Paciência serve para não deixarmos a ansiedade tomar conta, tarefa mais difícil de todas.
    E tempo para curar as feridas.
    Quando nossa vida muda, como foi com a sua, cada dia é feito de decisões e dá muito medo de escolher o caminho errado!
    Espero que você esteja bem, feliz e não tenha se arrependido, mesmo com os erros!
    =)

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  2. Pra mim, o "silêncio" ainda teve outros papéis importantes, além de tbém me ajudar a organizar as idéias.
    Por exemplo, ficar em silência e "não responder às críticas e acusações". Na maioria dos casos, ninguém quer ou vai te ouvir mesmo. Estão ali só pra acusar. Não adianta argumentar ou querer justificar nada. Seria em vão. Nesses casos, o melhor é ficar em "silêncio" e deixar o "tempo" colocar os pingos nos "iii". Claro, pra isso é preciso treinar tbém a "paciência".
    No fim das contas, os três - silêncio, paciência e tempo - estão invariavelmente ligados.

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  3. Isso mesmo. Mais ou menos isso que eu quis dizer com a linha de raciocínio. As pessoas julgam o que é visível aos olhos. O que se passar por dentro é tão complexo e também não é 100% claro para quem está passando pela mudança. Então, essa opinião alheia só atrapalha e confunde mais. Silêncio é para os sábios! É melhor mantê-lo em todos os sentidos e seguir confiando em si mesmo.

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