quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tendências e probabilidades: sinais.

Há regras pra muito pouca coisa nessa vida. Quase nada é estável ou imutável. A vida oscila e evolui constantemente. No entanto, em qualquer situação da vida há tendências e probabilidades que deveriam ser observadas sempre. Tendências e probabilidades são sinais que, muitas vezes, nos recusamos a enxergar.
Quando o ser humano está empolgado e vivendo um momento feliz, ele se recusa a enxergar sinais negativos. Às vezes, uma situação aparentemente boa de repente se torna ruim. Na verdade, não deve ter sido tão "de repente" assim, já que provavelmente sinais eram visíveis ou perceptíveis. O detalhe é que esses sinais foram ignorados ou desprezados. Ou, ainda pior, esses sinais foram negados. A velha mania da negação. Por que? Fuga ou defesa? Talvez os dois, talvez outro motivo qualquer.
Por isso, o melhor é começar a observar mais o que acontece ao nosso redor, dar mais atenção a detalhes, se lembrar das experiências passadas. É viver o hoje, sem desprezar o passado ou as experiências vividas. Maturidade é experiência. Quem não experimenta, não amadurece.
Se você está prestes a entrar em determinada situação, analise as probabilidades de essa nova experiência ser positiva ou dar certo. Analise a tendência. Tende a dar certo? Quais os "prós" e os "contras"? Essa análise deve ser fria e objetiva, longe de emoções e sentimentos. Se há mais "contras" do que "prós", caia fora enquanto é tempo. O sofrimento será menor. É burrice "remar contra a maré". É insensato caminhar contra uma tendência.
Você já ouviu a expressão "tentar segurar uma faca caindo"? Qual a probabilidade de, na queda de uma faca, você conseguir segurar apenas no "cabo" sem correr o risco de se cortar? Concorda que a probabilidade é mínima? Então pra que "tentar agarrar faca caindo"? Pense.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A mina d'água.

Quando eu tinha uns sete anos de idade, eu tinha um amigo que morava em uma casa com um quintal bem grande. Além desse quintal, o terreno vizinho também pertencia ao pai dele; era grande e cheio de árvores frutíferas. Costumávamos passar a tarde brincando naquele quintal. Gostávamos de brincar com água e um de nossos sonhos era ter o "nosso próprio rio". Num certo dia chegamos ao quintal para brincar e tivemos uma grande surpresa: num canto do chão, perto do muro que dividia o terreno com a casa, havia um pequeno "fio" de água jorrando da terra. Foi a maior alegria! Tínhamos nossa própria mina d'água. Nos três dias seguintes, construímos canais, pequenos "lagos", poços etc por todo o terreno. Através dos canais que construímos, a água circulava por quase todo o terreno. Diversão total. Até que, no terceiro dia, o pai do meu amigo - que tinha estranhado aquela movimentação - veio ver o que estava acontecendo. Ele levou um susto com toda aquela água e correu para fechar o registro da água da casa dele. Imediatamente a nossa mina se secou. Pois é, nossa mina era só um cano furado. Nosso "rio" só existiu por três dias. A nossa tristeza foi geral, mas logo já estávamos envolvidos em outras aventuras. Tristeza mesmo teve o pai do meu amigo dias depois quando a conta de água chegou.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sempre feliz??? Pera aí...

Você conhece alguém que está sempre feliz? Ou alguém que "diz" que está sempre feliz? Se você conhece alguém assim, tente ficar longe dessa pessoa: ela é doente. Muito doente. E se a ênfase for na "ausência da tristeza" e não na felicidade, a situação é ainda pior. Pois os psicopatas é que não possuem a capacidade de sentir a tristeza, e geralmente tentam produzir tristeza e terror em outras pessoas. Você conhece algum lugar onde o sol sempre brilha? Ou algum lugar onde a noite é constante? Ser "sempre feliz" é anti-natural, é anti-humano. O ser humano não foi criado pra ser sempre feliz. E é justamente nos momentos de dificuldades - e também de tristeza - que o homem mais cresce, mais se desenvolve e se fortalece. Outro dia eu li um trecho de uma entrevista e fiquei abismado. A pessoa entrevistada fazia questão de frisar o tempo todo o quanto ela era "sempre feliz", e que "nunca" se deprimia. Sabe aquelas atrizes de novela que nunca vão ao banheiro fazer cocô pra não interromper a "felicidade" que estão sentindo? Quem será que ela queria convencer? Pra quem será que ela precisava dizer isso com tanta ênfase? Eu acredito que, em primeiro lugar, pra ela mesma. Eu já tentei resumir a minha opinião pessoal sobre felicidade. E, cada vez mais, eu acho que a felicidade não é um "pacote pronto", mas sim momentos e experiências felizes. E o mais interessante - e que pode parecer contraditório - é que momentos difíceis também podem ser momentos felizes pelo crescimento proporcionado. Claro que, apenas posteriormente, esse momento difícil vai ser visto como um momento feliz, um momento de crescimento. De qualquer forma, está "na moda" ser "sempre feliz". É legal, é bonito, é moderno, é politicamente corrreto. Mas será que é saudável? Será que é honesto? Se você conhece alguém "sempre feliz", preste atenção: ninguém consegue fingir por muito tempo. Uma hora a máscara cai. E o mais dolorido é descobrir que está enganando a si mesmo. "A felicidade não é o que acontece na nossa vida, mas como nós elaboramos esses acontecimentos. A diferença entre o sábio e o ignorante é que o primeiro sabe aproveitar suas dificuldades para evoluir, enquanto o segundo se sente vítima de seus problemas." Roberto Shinyashiki

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eu quero ter um pé de jabuticaba.

Desde pequeno, eu sempre sonhei em ter um pé de jabuticaba. É uma de minhas frutas favoritas. Claro que, pra ter o pé de jabuticaba, eu também teria que ter um terreno, ou talvez uma chácara, onde esse pé de jabuticaba estivesse plantado. Esse terreno não poderia ser muito pequeno. Assim, também seria possível ter um pé de lichia, um pé de goiaba vermelha, um pé de tangerina e um pé de limão galêgo. Pois é, não sei se caberia tudo isso num terreno porque ainda teria que sobrar espaço pra uma horta e uma "meia-água" com uma churrasqueira. Acho que também sobraria um espacinho pra umas galinhas e umas codornas.
Eu sempre gostei de terra e de animais. Eu morei em casa durante os primeiros dois terços da minha vida, mas o quintal era pequeno e não sobrava muito espaço pra uma horta e uns bichinhos. Agora eu tenho filhos e eles parecem ter gostos parecidos com os meus em relação à terra, às plantas e aos animais. E, por isso, talvez hoje eu queira ainda mais realizar esse sonho: ter um pedacinho de terra.
Ah... já estava me esquecendo: meu filho também quer um pé de carambola. Confesso que não vejo muita graça nessa fruta, a não ser quando cortada em forma de "estrela" pra enfeitar a salada. Mas se eu posso ter um pé de jabuticaba, porque ele não pode ter um pé de carambola? Que assim seja.
O mais legal é que eles abraçaram tanto a idéia que até já colocaram nome nesse futuro pedaço de terra. Minha filha disse inicialmente que vai se chamar "oásis". Ela disse isso já faz alguns anos. Ela aprendeu sobre o oásis na escola e me explicou que, assim como um oásis é um refúgio com vida no meio do deserto, esse pedaço de terra vai ser uma espécie de refúgio no meio do tumulto da cidade. Ela tem uma certa consciência ambiental. Mas também tem muita consciência de como é possível viver bem, mesmo que de forma simples, perto da natureza e dos animais. Eu gosto disso.
Depois disso tudo, simplesmente não tenho como não me desdobrar pra conquistar esse "oásis". Junto com o meu pé de jabuticaba.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tentando levar vantagem em tudo.

Eu aproveitei o feriado pra pescar num pesque-pague da minha cidade. O dia estava bonito, quente, com ar de preguiça. Passei algumas horas na beira da represa, enquanto os meus filhos pegaram uns seis peixes bem bonitos. Depois nos dirigimos ao local onde os funcionários do pesque-pague fazem a limpeza e empacotam os peixes capturados. Entrei na fila para pesar os meus peixes logo atrás de uma senhora que aparentava uns cinquenta anos de idade, bem arrumada, tipo "mãe de familia". Assim que o funcionário pesou os peixes dessa senhora e ia fazer a anotação na ficha de consumo, ela virou pra ele e disse: "rapaz, marque uns dois quilos a menos aí na ficha". O rapaz ficou sem jeito, meio que sem entender exatamente o que estava acontecendo. Ela insistiu: "coloque menos aí na ficha". O rapaz - muito simples - ficou sem graça, constrangido, e disse que não podia fazer aquilo, disse que não era certo. Porque uma pessoa se dispõe a sair de sua casa e ir até um local de lazer, num feriado, pra fazer uma coisa dessas? Pra que ter uma "atitude" dessas? Levar vantagem até na hora de pesar alguns peixes? Atrás desse tipo de atitude é quase certo que existe um "ser" sem escrúpulos. Se uma pessoa assim tenta levar vantagem até na hora de pesar alguns peixes, o que mais ela seria capaz de fazer? Tenho medo até de pensar. Sinceramente, a minha sensação foi de nojo daquela mulher. Não consegui deixar de imaginar que é esse tipo de pessoa que vota e vai escolher os dirigentes do país daqui a alguns dias. O que a gente pode esperar de melhora no curto prazo? Nada. Não é esse ou aquele político que vai mudar esse país. O problema não está nos políticos; eles são meros reflexos do povo. O buraco é beeeeem mais embaixo. E não adianta me chamar de pragmático. Eu sou apenas realista.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eu sou humano. Deus é divino.

Eu me espanto com o grande número de pessoas que vive tentando defender Deus. Como se Ele fosse um ser indefeso. Como se nem sempre Ele soubesse exatamente o que faz. Como se Ele necessitasse ser justificado constantemente.
Quando algo ruim acontece, uns dizem que foi "Deus quem quis assim". Ou que, no final das contas, "Deus sempre tem o melhor pra nós". Também gostam de insistir que "não devemos nos preocupar, mas sim esperar o tempo de Deus". "No tempo de Deus tudo vai se ajeitar". Ou que devemos ver as coisas "com a visão de Deus, com os olhos de Deus". Tudo justificativa para quando as coisas não acontecem do modo que nós - seres humanos - queremos e esperamos.
Pera lá: eu sou humano. Eu quero as coisas no meu tempo, no meu fuso horário. Eu olho pras coisas com os meus olhos humanos. Se Deus realmente existe e se foi Ele quem me criou, Ele me criou humano. Sou obra Dele. Eu não escolhi nascer humano. Eu não escolhi ter sensações, sentimentos, desejos, ansiedades, visões humanos. Sinceramente, eu preferiria ter nascido "divino", com super poderes. Acho que as coisas seriam mais fáceis. Mas só Ele é divino. Eu nasci humano. Eu fui criado humano. É como se "criar" um cavalo e querer alimentá-lo com comida de tartaruga. Ou querer que o cavalo se comporte como uma tartaruga, que pense e veja como uma tartaruga. Simplesmente não dá. Se o cavalo nasceu cavalo, ele vai viver como cavalo. Ele vai pensar, ver e agir como um cavalo. É a natureza dele. E, a propósito, foi justamente Deus que criou o cavalo com essa natureza. Assim, seria no mínimo injusto se exigir ou se esperar que o cavalo aja como qualquer outro animal.
Diz a bíblia cristã que Lúcifer era um dos anjos mais próximos de Deus e cometeu o erro de querer ser igual ou maior do que Deus. Por isso, foi expulso do paraíso. Foi condenado e lançado no inferno. Ninguém poderia ser igual ou maior que Deus. Nem tentar. Se Lúcifer, que não era humano e já tinha alguns super poderes, queria ser como Deus mas não pôde, porque hoje alguns têm a prepotência de exigir que as pessoas - simples seres humanos - ajam como Deus? Porque querem que pensemos, olhemos, ajamos como Deus ou que esperemos o tempo de Deus? Não é possível. Isso vai contra a natureza humana, criada pelo próprio Deus.
Eu ouso dizer que, se Deus nos quisesse pensando e agindo como Ele, Ele teria criado um monte de "deuzinhos". Mas não foi isso que Ele fez. Claro, creio que Ele teve os seus motivos, os quais eu desconheço. E quando nós - simples seres humanos - falhamos ao tentar agir como Deus, somos tomados pela frustração. Frustração que, por sua vez, vem acompanhada pelo sentimento de culpa. Ou ainda pior: pela condenação daqueles humanos que se apresentam como semi-deuses ou como legítimos embaixadores de Deus na terra. É assim que fomos ensinados na cultura cristã ocidental. Fomos criados por Deus como humanos. Mas, aqui na terra, somos constantemente "ensinados" ou "influenciados" a agir como Deus. Falhamos ao tentar agir como Deus e nos frustramos, nos entristecemos. Somos acusados por ter falhado e condenados a uma vida miserável, em função do nosso fracasso. Essa é a "fórmula". Mas será que Deus pensa assim? Será que é isso que Ele espera de nós?
Hipoteticamente, ao se admitir que Deus pensasse e esperasse esse tipo de atitude dos seres humanos, esse mesmo Deus seria considerado, aos olhos humanos, um ser sarcástico e contraditório. No mínimo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Agarrem as pererecas!!!

Na verdade, eu vou falar de rãs. Mas o título com pererecas ficou bem mais legal. Além do mais, eu também gosto de pererecas. Só não gosto de sapos. Mas vamos ao que interessa. Depois que eu contei sobre a melhor pescaria, eu me lembrei de uma história interessante que aconteceu com a minha turma numa caçada de rãs. Pra quem não sabe, a rã é encontrada na beira de represas durante a madrugada, apenas com os olhos pra fora da água, brilhando. A gente se aproxima com uma lanterna bem forte apontada para o olho da rã, que fica imóvel por causa da luz, e então a espeta com uma "fisga" (fisga é aquele 'garfão'). Geralmente, depois de capturada, a rã deveria ser espetada ou pendurada pela boca num arame ou algo parecido pra não escapar, pois ela ainda fica pulando durante algum tempo. Certa vez, eu e meus amigos fomos passar a noite num sítio na beira do Rio Tibagi (sempre o Tibagi) pra caçar rãs nas represas que ficavam próximas do rio. A gente pegava lanternas potentes e fisgas e saía pelas represas durante a madrugada caçando as rãs. Mas a gente tinha pena de espetar a rã pela segunda vez na hora de guardá-las, após já terem sido espetadas quando foram capturadas. Então a gente as fisgava e as jogava num saco grande, daqueles sacos plásticos de 60 Kg, onde se transportam cebolas. A gente fechava a boca do saco e seguia em frente. Quando a gente já tinha fisgado uma quantidade boa pra uma fritada, a gente voltava pra sede do sítio pra limpar, temperar e fritar as rãzinhas. Nesse dia, quando a gente chegou na cozinha da casa pra limpar as rãs, aconteceu a catástrofe. Já dentro da cozinha, alguém deixou o saco cair no chão e umas 30 rãs escaparam. A maioria ainda estava viva e saiu pulando pelos cômodos da casa. Tente imaginar umas 30 rãs sangrando, meio mancas, pulando pra todo lado. Nos desesperamos. Fechamos a porta da cozinha, pegamos as fisgas novamente e recomeçamos a caçada. Dessa vez, pelos cômodos da casa. Deve ter demorado umas duas horas até recapturarmos todas as rãs. Acho que nem preciso dizer o estado em que a casa ficou de tanto barro e sangue. Parecia filme de terror. Depois de capturar as rãs, fomos lavar a casa. Quando terminamos tudo, o sol já brilhava lindo e forte. E todo mundo estava moído de cansaço e não queria mais saber de caçar rã. Nunca mais.

domingo, 15 de agosto de 2010

A melhor pescaria

Eu sempre gostei muito de pescar. Quando eu era adolescente, eu saía muito pra pescar com alguns amigos pelos rios e córregos de Ibiporã (cidade próxima a Londrina), os mesmos amigos da pescaria na loca. Mas tinha uma pescaria que era mais divertida e muito emocionante.
Lá em Ibiporã existe um "laguinho" decorativo, que fica numa pequena praça ao lado do teatro e da biblioteca municipal. Acho que atualmente essa pracinha se chama "Praça ou Jardim Japones". Há uns vinte anos atrás, a prefeitura daquela cidade fez uma revitalização naquela praça, limpou o laguinho, arrumou o jardim, melhorou a iluminação, e colocou uns peixes lindos. Dentre os peixes, havia umas tilápias enormes e muito bonitas, ou melhor, muito apetitosas (tilápia é um dos meus peixes favoritos - alguns a conhecem como St. Peter's fish). A gente costumava ir pra lá depois das 22h00, quando o movimento na cidade era bem pequeno, carregando "linhadas" - pedaço de linha com um anzol na ponta - e algumas iscas. Havia uma mureta a uns dois metros da água onde a gente se sentava. Pra disfarçar, a gente se sentava virado pra rua e ficava conversando, e fazia o arremesso pra trás, na direção das nossas costas. Enquanto isso, o Kéco, um dos meus amigos, ficava conversando com o vigilante do teatro pra distraí-lo até que déssemos o sinal para ir embora. Geralmente, a gente fisgava uns 3 ou 4 peixes. Algumas tilápias chegavam a pesar quase 1 Kg, eram lindas. Depois, a gente seguia pra minha casa pra fazer aquela "fritada". Com o tempo, pararam de cuidar do laguinho e de repor os peixes. E a nossa brincadeira acabou. (Obs: eventuais crimes estão prescritos e éramos menores de idade na época)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você sabe o que é bioética?

Bioética é um termo que surgiu no início da década de 70 e significa o estudo multidiscipinar que envolve a biologia, medicina, filosofia e o direito, e tem por objeto proporcionar um desenvolvimento ético da vida humana, da vida animal e das questões ambientais frente às novas tecnologias. Nos dias atuais, os temas mais polêmicos e que mais se destacam no campo da bioética são aqueles relacionados com a manipulação genética como, por exemplo, a fertilização in vitro, a clonagem humana, as células tronco e os alimentos transgênicos. A preocupação de alguns estudiosos reside especialmente na responsabilidade ética e moral - ou na falta dela - por parte dos cientistas envolvidos com essas pesquisas. Esses temas são novos e carecem de regulamentação. E a regulamentação, por sua vez, é difícil de ser implementada num mundo repleto de diversidades culturais, sociais, religiosas, políticas e econômicas. Por exemplo, um cientista que fosse impedido de desenvolver uma pesquisa ligada a um tema polêmico em determinado país poderia simplesmente transferir o desenvolvimento do seu trabalho para outro país onde encontrasse permissão, apoio, ou, na pior das hipóteses, onde encontrasse uma legislação que fosse omissa nesses temas, e carregaria consigo todo o seu equipamento, materiais, pesquisadores etc. Por isso, se houvesse alguma regulamentação, ela teria que ser supranacional, ou seja, teria que ser conduzida por um organismo internacional como a ONU, por exemplo, e que tivesse abrangência e poder de persuasão sobre todos os países do globo. Mas, ainda assim, possivelmente a questão não estaria bem delimitada ou regulamentada, já que alguns países simplesmente não fazem parte da ONU. Outros até são fliados à organização, mas nem sempre respeitam ou acatam suas decisões e determinações. Nessa abordagem apenas introdutória sobre a bioética, já fica clara a dificuldade de se regulamentar os temas de seu interesse. Mais adiante, admitindo que, hipoteticamente, alguns temas fossem objeto de regulamentação, surgiria um novo problema: a fiscalização e a sanção aos transgressores. Quem faria essa fiscalização? E quem aplicaria as eventuais sanções? Eu admito que estou apresentando uma visão um tanto pragmática sobre a dificuldade de se regulamentar o tema. Pessoalmente, sou ainda mais pessimista. Acredito que, no mundo atual, qualquer espécie de regulamentação seria ineficaz ou ineficiente, uma vez que, no contexto mundial atual, não existe organismo internacional com representação ou poder suficiente para desempenhar o papel de regulamentação e fiscalização. A própria ONU tem falhado na mediação de conflitos bélicos e não consegue se impor em diversas regiões do planeta. Não há força, respaldo ou poder suficiente. Além da inexistência desse organismo supranacional forte e com representação eficiente e significativa, há que se ressaltar que os interesses econômicos que envolvem o tema são imensos. É notório, por exemplo, que grandes indústrias farmacêuticas ou ligadas ao petróleo contribuem financeiramente e regularmente para campanhas políticas de líderes eleitos nos principais países do mundo, e também exercem forte pressão e influência sobre as casas legislativas desses países. A bioética será um tema cada vez mais presente em nossas vidas e é dever de cada indivíduo participar da reflexão e da geração de soluções e diretrizes para os problemas que surgirão em torno desse tema. (esse texto terá continuação)

Obstinação

Antes de começar a escrever esse texto, eu dei uma rápida olhada em algumas definições da palavra obstinação. Uma das definições mais objetivas foi: "perseverança em alcançar seus objetivos, tenacidade, persistência". Essa palavra mexe comigo. Eu também gosto das palavras perseverança e persistência, mas acho que até a sonoridade da palavra obstinação é mais forte, mais profunda. Nem sempre a gente consegue ser obstinado. Mas, ainda assim, acho que a obstinação é uma daquelas qualidades que devem ser buscadas sempre, independentemente da possibilidade de ser efetivamente alcançada. Pois a simples "busca" já vale a pena, o esforço e a mobilização valem a pena. A mera idéia da obstinação, da busca, da perseverança já nos faz pessoas melhores. A gente se sente vivo. Mas eu não me refiro a uma obstinação vazia, sem sentido. Não vale conseguir algo apenas pra poder estufar o peito e dizer que conseguiu, como aquele exemplo de ganhar dinheiro como fim, apenas pelo dinheiro em si, e não como instrumento ou meio para se alcançar outros prazeres. Eu estou falando de ser obstinado para se alcançar objetivos nobres como, por exemplo, se graduar numa universidade, construir uma casa, fazer uma viagem. Algo que traga outros benefícios sensíveis, que traga satisfação secundária maior do que simplesmente ter alcançado aquele objetivo. É conseguir fazer a viagem não pela viagem em si, mas por tudo de bom que pode acontecer numa viagem: as experiências, o aprendizado, as novas amizades etc. Eu já cansei de ver pessoas reclamando da vida. Por anos e anos. Reclamam do trabalho, da falta de dinheiro, da falta de saúde. Reclamam de tudo. Mas não fazem absolutamente nada para mudar aquela situação insatisfatória. Levam uma vida totalmente inerte. Como se aguardassem uma solução sobrenatural, vinda do céu. Assim é difícil. Nada cai do céu (a não ser raio, avião, cocô de passarinho). Então o melhor é se mexer. Obstinação é trabalho, é suor no rosto, lágrimas nos olhos. Mas também é recompensa, alegria e satisfação. Também é saúde e qualidade de vida.

Seu corpo é uma engrenagem ou um objeto de decoração?

Como você lida com o seu corpo? O que o seu corpo representa para você? Existem várias maneiras de lidar com o corpo e de cuidar do corpo. Mas duas maneiras de encarar o corpo chamam bastante a atenção. O nosso corpo é, antes de mais nada, o meio através do qual nos movemos, é o abrigo da nossa alma e do nosso espírito, é um instrumento de busca e satisfação de alguns prazeres da vida como a alimentação, o esporte, a música e a dança, o sexo etc. Muitas pessoas têm essa noção da importância do corpo e, por isso, cuidam dele com a maior atenção possível. É a consciência de que o corpo é um instrumento importantíssimo e que merece todo o cuidado para se manter saudável. Outras pessoas encaram os seus corpos como meros objetos de decoração. Inclusive, cuidam de seus corpos com essa finalidade: decorativa. Essas pessoas também gastam tempo e energia tentando manter seus corpos saudáveis, mas a motivação é diferente. Essa motivação pode ser um simples exibicionismo. Ou pode ser até a utilização do corpo como moeda de troca. Afinal, independentemente do sexo, sempre existiu quem se interessasse em primeiro lugar por um "corpinho bonito", deixando outras qualidades e virtudes em segundo plano. Finalmente, há aquelas pessoas que absolutamente não se preocupam com a "manutenção" de seus corpos. Nem pensam nisso. Esgotam, maltratam e envelhecem seus corpos de forma totalmente desordenada. E, geralmente, vivem pouco. E mal. O corpo é a nossa grande engrenagem, o nosso motor. De que adiantaria uma alma e um espírito saudáveis se não houvesse um corpo saudável onde pudessem se abrigar?

domingo, 8 de agosto de 2010

As minhas lombrigas.

Eu me lembro que, quando eu era pequeno, eu passei algumas vontades. Minha familia era de classe média baixa e não era todo dia que os meus pais podiam comprar os "doces" que eu queria. E criança simplesmente tem lombriga mesmo. Ainda mais na Ibiporã de 30 anos atrás. Eu também me lembro que o primeiro dinheiro que eu ganhei na vida, com alguma forma de trabalho ou bico, foi aos 15 anos. Mas era coisa bem pequena, nem dava pra considerar salário. Depois, já formado, eu passei no primeiro concurso público e comecei a ganhar uns "trocos" mais significativos. Nos primeiros meses, assim que eu recebia o meu salário, eu separava uns R$50,00 (valores da época - em 98 cinquentão era grana!!!), corria pro mercado e comprava um monte de "porcaria". Só "besteira" mesmo, como diria a minha avó. Ou só "guloseimas", como diria o Zé Colméia. Eu comprava umas duas caixas de bombom, uma meia dúzia de barras de chocolate, uns pacotes de bala, torrones, às vezes até uma caixa daqueles doces de bar... sabe aquelas gomas retangulares, metade vermelha, metade branca??? Delícia. Coisa de pobre mesmo. A cara de pobre não nega, eu já disse em outro texto. O cara que nasce pobre pode até ganhar uns trocos na vida mas, se descuidar, ele corre na "mercearia" e pede uma tubaína de framboesa - da marca Cini, lembra? Às vezes, a gente fazia questão de tomar a tubaína de framboesa só pra correr no espelho e ficar olhando a língua toda vermelha. Devia ter tanta porcaria naquela tubaína que a língua ficava vermelha por vários dias. Era tinta pura. Mas era uma delícia. Porque eu estou contando essa história? Faz umas duas semanas que eu estou evitando qualquer tipo de açucar. Quero perder uma gordurinha localizada que só eu enxergo na minha barriga. Hoje eu pedalei por mais de 30 Km, como parte da operação - pedalo 30/35 Km todo sábado. Fui à academia três vezes na semana passada, sem contar outras duas vezes que eu corri no lago. Mas eu sei que o meu armário tá cheio de doces, tem uns três potes de Hagen-Dazs no freezer, e eu não consigo parar de pensar nisso. Tô quase jogando tudo pra cima. Vai dormir, lombriga!!!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nunca subestime algo ou alguém

Nunca subestime algo ou alguém. Eu ouvi uma história interessante e vou reproduzí-la aqui. Afinal, sou adepto total da idéia de que esse mundo é pequeno e dá voltas. Muitas voltas. Rápido demais. Uma vez, um jovem de uns dezessete anos se interessou por uma menina da mesma idade, que morava na sua vizinhança. Geralmente as meninas amadurecem um pouco mais rápido do que os meninos e, nessa idade, geralmente se interessam por garotos alguns anos mais velhos. Nesse caso, o menino tomou coragem e deu um jeito de se aproximar dela pra expor o seu interesse, mas a menina não lhe deu a menor atenção. De certa forma, até o desprezou. Disse que ele ainda era um moleque, que não servia pra ela, que ela não teria futuro com ele. Uns dez anos mais tarde, eles se reencontraram. As circusntâncias eram um pouco diferentes. Aquele menino tinha crescido, se formado e era gerente de um grande hotel. Num certo dia, um dos hóspedes mais frequentes e abastados do hotel ligou na recepção do hotel e avisou ao gerente que tinha "encomendado" uma garota de programa. Disse que a moça estava para chegar e que, assim que ela chegasse, ela deveria ser anunciada, mas que só deveria ser autorizada a subir se o gerente a achasse bonita e atraente. Ou seja, o gerente deveria fazer uma espécie de "triagem" antes de liberar a moça. Depois de alguns minutos, a moça chegou, se aproximou do balcão e se anunciou. Foi atendida por aquele gerente e, quando ela o reconheceu como sendo o rapaz que morava na sua vizinhança alguns anos antes, ficou transtornada. Ficou pálida, trêmula, mas tentou manter a postura. Imediamente, o rapaz interfonou para o hóspede e apenas confirmou que a pessoa esperada havia chegado e que ela já estava subindo. "Lembre-se sempre que aquela lagarta nojenta e desengonçada pode se tornar a mais bela das borboletas."

Caçadores de oportunidades

Eu li recentemente um livro que trazia a definição de "caçadores de oportunidades". Quando eu escrevi aqui no blog o texto sobre interesse, era mais ou menos sobre esse tipo de atitude a que eu me referia, mas eu acho que não consegui me expressar com muita clareza. Nesse livro, o autor aplica um conceito de marketing aos relacionamentos apontando que, da mesma forma que existem consumidores que não são fiéis a um produto qualquer, existem pessoas que não são fiéis a um amigo ou parceiro. Pelos mesmos motivos - interesses, vantagens. De acordo com essa definição, algumas pessoas adquirem um produto pelo "preço" ou pela "vantagem" que estão obtendo naquele dado momento. Essas pessoas não se interessam pela história, pela marca, pelo conteúdo, pelo valor real do produto, tanto que, assim que surge um produto novo no mercado por um preço mais acessível, ela passa a consumir aquele produto. Essas pessoas não se fidelizam. Elas se mantém fiéis apenas enquanto não surge outro "produto" que ofereça alguma vantagem maior. Geralmente, a vantagem é o simples preço menor. Esse comportamento também é muito comum nas amizades e nos relacionamentos. Nesses casos, a pessoa está do seu lado enquanto for conveniente, enquanto ela tiver alguma vantagem, algum atrativo. Mas, no primeiro problema que surgir, ela vai abandonar o barco ou vai procurar outro porto mais seguro, ou mais vantajoso. Às vezes, a gente se esquece que em tudo na vida há altos e baixos. A gente sempre quer usufruir apenas dos "altos" da vida. Nas amizades e relacionamentos a coisa funciona mais ou menos da mesma forma. Enquanto tudo é alegria, as pessoas estão empenhadas e comprometidas. Mas, ao primeiro sinal de crise, é mais fácil fugir do que lutar pra resolver o problema. Segundo essa filosofia, se o "brinquedo" se quebrou ou apresentou algum defeito, é mais fácil jogá-lo fora e correr na loja pra comprar outro novo. É a moda do descartável. Afinal, "o que importa é ser feliz" - como se prega aos quatro cantos. Mas eu simplesmente não consigo pensar numa felicidade dissociada da ética. Sem chance.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nostalgia

La nostalgia es un sentimiento mui fuerte y peligroso, como el fuego de una pasion, algo casi incontrolable.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O galo do meu pai

Já que eu falei do meu porquinho de estimação, acho legal também contar sobre o galo do meu pai. Isso mesmo: meu pai teve um galo de estimação. Sim, eu sei que é ridículo. Mas você conhece o meu pai? Então relaxe e curta a história. Quando eu era pequeno, meu pai sempre contava que, quando ele era criança, ele costumava acordar cedo com o som do galo cantando e que ele sentia saudades daquela época. Há uns 20 anos atrás, a gente morava em Ibiporã e o meu pai era professor do ensino médio, numa escola pública. Um dia ele contou essa história do galo na sala de aula e, dias mais tarde, uma aluna que morava no sítio apareceu na aula com um franguinho de presente pra ele. Era da raça galizé - alguns dizem garnizé, aqueles galos que não crescem muito e cantam bem alto e ardido. Pois bem, meu pai levou o franguinho pra casa e até deu um nome a ele: "Izé". Ele também cuidava do franguinho como se fosse um cachorrinho de estimação. Até que o franguinho cresceu e virou um galo. Era bem bonitinho e cantava bem alto pela manhã. Os vizinhos deviam gostar de ouvir aquele galo cantando às 5h da manhã, dia após dia. Mas a nossa preocupação começou no dia em que o meu pai arrumou uma espécie de fita, amarrou numa das patas do galo, e saiu com ele para passear na calçada. E ele fez isso muitas vezes. Nessas ocasiões, eu e minha irmã nos trancávamos em casa. Evitávamos ser vistos na rua no momento em que aquele passeio exótico acontecia. Mas, pra nossa sorte, logo ele percebeu que aquela fita machucava a pata do bichinho e então ele parou de levar o galo pra passear pelo quarteirão. Depois de um tempo, meu pai chegou à conclusão de que o galo estava solitário e precisava de mais espaço. Então ele deu o galo para a funcionária que trabalhava na nossa casa e ela o levou para ser criado no sítio da familia dela. De vez em quando ela trazia notícias do galo; dizia que ele tinha se tornado o rei do terreiro e que apavorava as galinhas da vizinhança. Muito tempo se passou e eu imagino que o galo tenha virado canja. Que ele descanse em paz.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Férias de julho

No final do mês passado, eu contava os dias para a chegada das férias escolares. Além do cansaço do primeiro semestre, eu sentia que não estava produzindo muita coisa, especialmente textos. Me sentia sobrecarregado e cansado. As férias chegaram e eu pude descansar. Mas, nesse período, eu não fiz praticamente nada. Li e escrevi muito pouco. Produção próxima do zero. Parece que aquela velha história faz sentido. Quando a vida está tranquila, nos acomodamos. Quando temos pouco tempo ou recurso, aí é que nos esforçamos mais: tiramos leite de pedra. Ou "quando a água bate na bunda, a gente se mexe...". No trabalho eu não tirei férias. Mas lá o mês de julho foi tranquilo, não tenho do que reclamar. Já que aqui é um espeço pra falar da vida, nessa semana eu tenho alguns motivos especiais pra estar feliz. Um deles é porque no último domingo eu consegui completar a prova de aventura de quase 40 Km, em Ibiporã, prova que misturava bike, trekking e bóia-cross. Fiquei todo arranhado, picado por abelhas, assado, queimado e com uma lesão na córnea - que já cicatrizou. Mas foi uma prova de superação pessoal, pois eu, sinceramente, não imaginava que já conseguiria terminar essa prova. E o mais legal: terminei inteiro. Na terça eu já estava de volta à academia e ontem eu já estava correndo no lago novamente. O segundo motivo é que eu fui aprovado como aluno especial no Mestrado em Filosofia, na UEL. Agora, além do curso de graduação em Filosofia, eu vou tentar conciliar matérias do mestrado. A intenção é concluir a graduação e o mestrado juntos daqui a uns 3 anos. As férias escolares estão acabando e na semana que vem a correria recomeça. Eu espero estar reabastecido pra enfrentar esse segundo semestre. Também espero voltar àquele ritmo mais intenso com os dois blogs. Inicialmente, os blogs eram apenas um lugar pra eu relaxar, desabafar e me descontrair. Mas fui surpreendido pelo número de visitas, pelos comentários, pelas pessoas que conheci, e pelas amizades que fiz através dos blogs. Tudo isso foi muito legal. Nesse semestre eu faço aniversário e estarei um pouco mais próximo dos "40". Há algum tempo atrás, isso deveria me assustar. Mas, desde antes dos 30, eu comecei a preparar a cabeça e principalmente o corpo pra chegar bem aos 40. É óbvio que essa proximidade com os 40 vai virar texto - otimista, de preferência. Também estou planejando tirar uns 15 dias de férias do trabalho e fazer uma viagem legal nesse semestre. Ou seja, terei muita história pra contar. Que venha o segundo semestre!!!

sábado, 24 de julho de 2010

O meu porquinho.

Quando eu tinha uns dez anos de idade e ainda morava em uma casa, em Ibiporã, eu e minha familia fomos passar um sábado na fazenda de uns amigos pra fazer churrasco e pescar. Era uma fazenda grande e cheia de animais, à beira do Rio Tibagi. Lá havia uma "porca" que tinha dado cria fazia pouco tempo; os leitõezinhos ainda não tinham desmamado. Eram porquinhos "caipira", daqueles malhados, bem bonitinhos. Eu passei aquele sábado inteiro com um daqueles porquinhos no colo, brincava como se fosse um cachorrinho. Na hora de ir embora foi aquela choradeira, eu não queria largar o porquinho. Então o proprietário da fazenda disse que eu podia ficar com o porquinho, que era um presente. Meus pais fizeram cara de "fim de mundo", mas me deixaram levar o porquinho pra casa. Chegando em casa, eu e meu pai preparamos um cercadinho com um resto de tela e madeira que havia no quintal. Nas três manhãs seguintes, eu acordei cedo e fui até a quitanda que havia na esquina pra pegar restos de vegetais pra alimentar o porquinho. Até que... o porquinho sumiu. No terceiro dia havia um buraco na tela e o porquinha tinha desaparecido. Procuramos pelo quintal e nada. Até que começamos a ouvir uma gritaria na rua, em frente da casa. Era o porquinho. Saímos atrás dele pelas ruas da cidade. O bichinho disparou em direção à avenida principal, que ficava a umas duas quadras da minha casa. No meio do caminho, um susto: o porquinho entrou embaixo de um ônibus que descia a minha rua. Eu cobri os meus olhos e já começava a chorar quando o infeliz (quer dizer, a infeliz - era fêmea) saiu correndo pela traseira do ônibus. Ela passou por baixo do ônibus de ponta a ponta, sem se machucar. Algumas pessoas que caminhavam pela calçada tentavam ajudar a agarrá-la por onde ela passava, mas era em vão. Até que, chegando próximo da praça da igreja matriz, havia um ponto de taxi, e os taxistas que conversavam na calçada fizeram um cerco e capturaram a porquinha pra mim. Voltei pra casa feliz, com a porquinha nos braços. Em casa, meu pai me convenceu de que a porquinha iria crescer muito e que os problemas aumentariam proporcionalmente ao tamanho dela, ainda mais se considerarmos que não é uma boa idéia se criar um porco no quintal de uma casa, no centro da cidade. A solução foi levar a porquinha pro sítio de uns conhecidos onde ela seria criada com a condição de que, assim que atingisse um bom peso, seria sacrificada e a carne seria dividida: metade pra nós, metade pro pessoal do sítio. O final seria um tanto trágico, mas eu concordei. Nos próximos seis meses eu fui àquele sítio algumas vezes, mas nem quis chegar muito perto da porquinha por causa do apego. Mas até que não foi tão difícil me desapegar dela porque ela cresceu muito rápido e ficou enorme, irreconhecível. Após seis meses, foi sacrificada quando pesava 90 Kg. O pessoal do sítio ligou avisando que traria a carne num sábado à tarde. Pra nossa surpresa, trouxeram a porca inteira; não aceitaram ficar com a metade dela, conforme tinha sido combinado. Lembro que minha mãe colocou uma mesa no quintal e passou a tarde separando as partes do animal pra facilitar o congelamento. Alguns vizinhos também ganharam um pouco de carne. Essa foi a história do meu porquinho. Quer dizer, porquinha.

domingo, 11 de julho de 2010

O problema da idealização.

Depois que eu escrevi o texto falando da mitificação, eu comecei a pensar se não teria sido melhor falar antes sobre idealização. Em se tratando de pessoas ou relacionamentos, eu acho que os dois assuntos estão bem ligados. De qualquer forma, até pela posição em que os textos aparecerão publicados no blog, fica até mais didático lê-los na sequência em que aparecerão. Eu tenho pensado muito no que eu quero para a minha vida mas, mais ainda, no que eu não quero para a minha vida. Pra mim, é mais fácil definir primeiro o que eu não quero para a minha vida. O problema é definir o que eu quero. Quando a gente tenta pensar no que quer, no que escolher, é bem natural se fazer um esboço de algo ou de alguém. Lógico que a gente pensa apenas em coisas boas e positivas, em qualidades e virtudes. Quando alguém pensa em ter um companheiro ou companheira, eu duvido que alguém escolha determinada pessoa pelo fato de ela ser alcoólatra ou por não gostar de trabalhar. Muito pelo contrário. Pois bem, quando a gente tenta definir um perfil de acordo com os nossos gostos e vontades, o que estamos fazendo é idealizando esse perfil, idealizando essa pessoa. Por exemplo, a mocinha pode começar a pensar nesse assunto e definir que pra ela o homem ideal é alto, bonito, inteligente, honesto, trabalhador etc. Assim, ela estaria "idealizando" o seu perfil de homem perfeito. Perfeito para as suas necessidades e vontades. Mas isso ainda é abstrato. Se trata apenas de um perfil que ainda não existe e, por sinal, dificilmente existirá (e, se existir, já terá dono). Vale ressaltar que não há mal algum em idealizar algo ou alguém. O problema é que nas nossas idealizações a coisa ou a pessoa idealizada nunca tem defeitos, é perfeita. E perfeição não existe. O problema começa a se agravar quando a gente entra na próxima fase que é justamente quando "acha" que encontrou a pessoa que se enquadra naquele perfil idealizado. Mesmo sem conhecer a pessoa, ou conhecendo superficialmente, ela se torna a "escolhida" e a gente passa a acreditar que essa pessoa se enquadra no perfil idealizado. Nesse momento, a gente deixa a idealização de lado e entra na mitificação. É quando a gente veste aquele perfil em determinada pessoa e a pessoa se torna um mito. Pronto: aí entra o problema da mitificação. E isso é assunto pro texto seguinte.

sábado, 10 de julho de 2010

O problema da mitificação.

Às vezes a gente "mitifica" algo ou alguém. É comum se mitificar o que ainda não se conhece bem. Imagine um produto novo. Por exemplo, um chocolate que acaba de ser lançado no mercado. A embalagem é bonita, colorida e chama a atenção. Na propaganda do outdoor aparece uma moça linda dando uma mordida no chocolate e fazendo cara de feliz. A imagem do chocolate na propaganda é de dar água na boca. Mas aí você compra o chocolate e o experimenta, e percebe que ele não tem nada de mais. É um chocolate normal, nem melhor, nem pior do que a maioria. É um chocolate como outro qualquer. Mas porque você tinha criado tanto expectativa em relação ao chocolate? Porque você tinha tanta certeza de que ele era tão delicioso? Você tinha mitificado o chocolate, tinha criado um mito daquele chocolate. Essa mitificação foi baseada na propaganda, na imagem etc. Mas não traduzia a realidade daquele chocolate. Mas é ainda pior quando a gente mitifica uma pessoa. A gente cria uma imagem em relação àquela pessoa. Em alguns casos, isso se torna até uma obcessão. Se imagina como a pessoa é, como se comporta, o que pensa, o que faz, o que come, os lugares que frequenta - sempre se imaginando coisas boas e positivas. Os adjetivos conferidos à pessoa sempre são positivos na mitificação. Mas aí se conhece a pessoa e se percebe que ela não era nada daquilo. Não significa que não seja uma boa pessoa, não é isso. Ela ou ele simplesmente era uma pessoa normal, de carne e osso, cheia de defeitos e qualidades. E a gente se decepciona. Eu já ouvi histórias de gente que admirava um artista famoso e um dia teve a felicidade de ficar frente a frente com ele. O final das histórias geralmente era de decepção e frustração. Os comentários eram: "na TV ele parecia tão alto e pessoalmente é um baixinho"; "ela parecia tão simpática na TV, mas pessoalmente foi tão grossa" ou "pensei que ele fosse inteligente". Imagens são criadas, pessoas são mitificadas. É interessante que uma das funções do marketing é justamente tentar mitificar algo ou alguém. No marketing comercial tenta se mitificar um produto. No marketing pessoal tenta se mitificar alguém. Muitas vezes, independentemente de qualquer marketing, nós mesmos mitificamos algo ou alguém espontaneamente. Mas geralmente aquela pessoa ou produto se resume ao mito que foi criado. Muito bem criado, diga-se de passagem. Mas, na prática ou no dia-a-dia, a pessoa é um ser humano como outro qualquer.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O trabalho não pode ser um fim.

O trabalho não pode ser encarado como um fim. O mesmo raciocínio vale para o dinheiro. O trabalho é apenas um meio, ou um instrumento, para que outros fins mais importantes possam ser alcançados. Para os que acreditam, até biblicamente falando, vemos que Deus inicialmente criou o homem para viver no paraíso, onde tinha tudo o que necessitava à sua disposição e não precisava trabalhar. Deus não agiu assim por acaso. Há pessoas que trabalham 12, 14, 16 horas por dia. São conhecidos como workaholics. Vivem para o trabalho. E, o que é pior, alguns se orgulham disso. Mas para que trabalhar tanto? Pelo trabalho em si? Para o acúmulo de riquezas? De que adianta ganhar bem e não ter tempo pra gastar??? O trabalho, juntamente com o dinheiro ganho no trabalho, devem ser o instrumento para que prazeres e confortos sejam alcançados. Trabalha-se e ganha-se dinheiro para poder viver bem, confortavelmente, ter uma boa casa, um bom carro, fazer viagens. A partir do momento em que o trabalho se torna o objetivo final, pode-se perceber duas situações distintas: ou vira ganância quando o objetivo é apenas ganhar e acumular bastante dinheiro; ou vira desvio quando a pessoa mergulha e se esconde no trabalho. Nos dois casos, as situações não são nada saudáveis, nem para a própria pessoa, nem para aqueles que a rodeiam. Quando se discute finanças pessoais, alguns analistas aconselham a tomar cuidado para não entrar na "corrida dos ratos" (do ratinho de laboratório que corre em uma roda, sem sair do lugar), que é aquela situação em que a pessoa trabalha, trabalha, mas o que ganha mal dá para mantê-la com sua familia. O dinheiro ganho não permite que troque de casa ou de carro, ou que faça uma viagem de férias. E, assim, ela vive como se estivesse naquela roda em que o ratinho corre, corre, mas não sai do lugar. Se alguém trabalha muito, ainda que ganhando muito bem, essa pessoa pode até acumular dinheiro, mas não vai sair do lugar. É como se também estivesse numa "corrida dos ratos - versão trabalho". Essa pessoa não tem tempo para gastar esse dinheiro, não tem tempo pra investir em si mesma, no seu lazer, no seu crescimento pessoal e intelectual, no seu prazer. E não sai do lugar. Por isso, a idéia é equilibrar o estilo de vida. É importante trabalhar e ganhar um bom salário, mas isso não é tudo. A vida é muito mais do que apenas trabalho. É preciso viver a vida com prazer, e o trabalho é apenas o instrumento que deve ser utilizado para se alcançar esse prazer em viver. Se você é um workaholic, reveja seus conceitos, suas prioridades e objetivos: você vai viver mais e de forma mais saudável e prazerosa.

sábado, 3 de julho de 2010

Bons exemplos de outros povos.

Ainda nesse clima de copa do mundo, é interessante observar algumas atitudes de outros povos. Atitudes que demonstram empenho, dedicação, persistência, foco, valores e prioridades bem definidos. Há uns 20 anos atrás o futebol apenas engatinhava no Japão. Era um esporte muito pouco conhecido. Uma liga nacional estava sendo criada, diversos jogadores sendo "importados" de vários países, em especial do Brasil, com o intuito de realizar uma espécie de intercâmbio para divulgar e desenvolver o esporte no país. Depois de apenas 20 anos, o Japão já sediou um copa do mundo e acaba de ser eliminado nas oitavas da copa da África do Sul. Foi eliminado nas oitavas, mas poderia tranquilamente ter avançado à fase seguinte. O país mostrou um bom futebol, quase matemático. No norte do Paraná onde se concentra a segunda maior colônia japonesa do Brasil dá pra se ter uma boa idéia da cultura e de alguns hábitos desse povo. A forma como estudam e trabalham, a dedicação, a seriedade, a perseverança e o foco são suas marcas registradas. E essas virtudes podem ser reconhecidas na evolução e no desempenho atual do futebol naquele país. Em apenas 20 anos, implantaram e tornaram um esporte popular no país a ponto de colocá-lo entre os 16 melhores do mundo. Do outro lado do mundo, aqui pertinho, vemos o exemplo do Uruguai, que acaba de chegar às semi-finais da copa. Um amigo veio me questionar porque eu torcia pela eliminação do Brasil e pelo sucesso do Uruguai. Em relação ao Brasil, eu já deixei clara a minha posição no texto "O país do futebol". Já o Uruguai é um país bem peculiar. Estive no Uruguai em 2008 e agora no início de 2010. É um país pequeno, sem grandes recursos naturais. A criação de gado e ovinos tem grande importância para a economia do país, além do turismo. Mas o mais importante é que, apesar de pequeno e de não possuir grandes recursos naturais, é um dos países que mais se destacam na américa latina em termos de desenvolvimento humano. No Uruguai há baixos índices de analfabetismo. Até nas conversas pelas ruas pode se perceber que o povo uruguaio é mais educado, culto e politizado do que a média latinoamericana. Agora o fundamental e que mais me chamou a atenção no Uruguai: praticamente não existem escolas particulares naquele país. Pois existem escolas públicas de boa qualidade, gratuitas, com ensino integral e acessíveis a toda a população. E também não existem grandes planos de saúde no país: são desnecessários. O Estado fornece assistência à saúde com qualidade, e a toda a população. Porque eu estou dizendo tudo isso? Porque, nesses casos do Japão e do Uruguai, onde a população tem educação de qualidade, acesso à saúde, qualidade de vida com uma certa isonomia de norte a sul do país, nada mais justo do que se "gastar tempo" com o futebol. É uma forma de lazer. Já fizeram a lição de casa e agora têm direito ao lazer proporcionado pelo futebol. Com moderação e respeito. O Brasil deveria seguir esses exemplos. Não existe país subdesenvolvido. Existe país subadministrado.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O país do futebol.

Eu sonho em um dia viver no país da educação. Ou no país do meio ambiente. No país da justiça social. No país da saúde. No país da industrialização. No país da honestidade. No país do índice zero de mortalidade infantil e de 100% de alfabetização.
Mas a minha realidade é bem diferente. Eu vivo no país do futebol. No país do samba e do carnaval. No país da violência e da corrupção. Pra alguns, viver no país do futebol e do samba é motivo de orgulho. Eu sinto apenas vergonha.
Até hoje eu não vi uma grande mobilização no país para se lutar pela melhoria da educação, do ensino público. Apesar de algumas melhoras na área da saúde como o baixo índice de fumantes, a erradicação da paralisia infantil etc, eu nunca vi uma mobilização tão grande como acontece em tempos de copa do mundo. Nunca vi uma grande mobilização na luta pelo fim da corrupção, com pequenas e pontuais exceções.
Futebol é apenas futebol. Vinte e dois homens correndo atrás de uma bola. Suados, fedidos, violentos. Não consigo enxergar muito além disso. A não ser quando leio os números que envolvem o futebol. Ou quando vejo a grana que a Fifa, a CBF, os patrocinadores, as TVs, os jogadores ganham com o futebol. Mas não vejo a população recebendo qualquer benefício direto com o futebol. Chegamos ao absurdo de, dias atrás, o Lula ter editado uma medida provisória isentando as empresas envolvidas com a copa de 2014 do pagamento de impostos. E isso vale, inclusive, para os canais de TV, além de CBF, Fifa etc. Ninguém vai pagar imposto se "alegar" que aquela atividade tem a ver com a copa de 2014. Vai ser uma festa! Mais uma. Eu cheguei a ficar com pena da Fifa e da CBF, pois os coitados quase não arrecadam dinheiro com o futebol e realmente precisavam de alguns incentivos. Eu trabalho e parte do meu salário fica "retido na fonte" para o pagamento de impostos. Mas a Globo não vai pagar impostos sobre qualquer coisa que tiver alguma ligação com a copa de 2014. Pera lá: não tô entendendo!!!
Mas voltando a falar de futebol. Alguns dizem que é a paixão nacional. Eu não quero parecer esnobe, mas eu tenho outras paixões: música, natureza, educação, gastronomia. Até gosto de assistir a jogos de basquete, mas em hipótese alguma eu deixaria de trabalhar ou fecharia o meu comércio por causa de um jogo.
Mais interessante ainda é a festa que uma parte da população faz nas ruas da cidade após a vitória em algum jogo ou final de campeonato. Muita buzina, fogos, gritaria, bebedeira, garrafas quebradas. Eles estão comemorando uma vitória numa partida esportiva? Ou estão desabafando??? Isso mesmo: desabafando. O cara tem que ser muito reprimido na vida pra comemorar daquela maneira. Isso é sério, grave.
Me lembrei de mais um fato interessante. Na época da ditadura, toda vez que o governo começava a enfrentar baixos índices de popularidade, eles tratavam logo de promover um "torneio quadrangular" com a seleção brasileira que, obviamente, era a campeã do torneio. Todo mundo ficava feliz e comemorava durante algumas semanas. E, com isso, os ditadores ganhavam mais alguns meses de sobrevida no poder até com uma certa tranquilidade. De novo a velha fórmula do panis et circensis. O tempo passou. Dizem que a ditadura acabou, que o Brasil quer ser um país grande. Mas a minha ficha ainda não caiu. Prefiro continuar com os pés no chão, sonhando apenas com um país melhor. De verdade.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Porque eu escrevo?

Me perguntaram se não tenho receio de me expor ao escrever. Eu sei que há riscos, mas realmente não tenho esse receio. Acredito que, quem se dispõe a escrever qualquer coisa, deve estar consciente de que vai se expor de alguma maneira. Cedo ou tarde, vai expor conceitos, vontades, fraquezas, desejos, frustrações, preconceitos.
Eu escrevo pra desabafar. Desabafo pra mim mesmo. Também escrevo pra me distrair e pra sonhar. Consigo realizar nos meus textos alguns sonhos que não seriam possíveis na vida real. E também consigo viajar pra lugares que ainda não pude conhecer. Depois que escrevo, leio e releio o que escrevi diversas vezes. Altero, aprimoro, censuro e transformo os meus textos. Mas, principalmente, aprendo com o que eu escrevo. Aprendo um pouco mais sobre mim mesmo. 
Algumas vezes escrevo pra dar "um puxão de orelha" em mim mesmo. Pra que determinada situação ou experiência fiquem bem registradas e eu possa me lembrar delas se um dia precisar. E pra que, nos comentos de dúvida ou crise, eu possa recorrer ao que escrevi pra me lembrar do melhor caminho a seguir.
Eu sempre me surpreendo quando alguma história que contei mexe com alguém. Acho muito legal quando alguém se identifica comigo através de algo que escrevi. Acho esse tipo de interação fantástica. Até mesmo novas amizades podem surgir desse tipo de acontecimento.
Eu tenho que confessar que eu também escrevo pros meus filhos. A gente não sabe por quanto tempo ainda estará por aqui. Por isso, quando escrevo, penso em deixar algo registrado pra eles. Pra saberem como eu sou, como eu penso, como eu sonho, como eu sofro, como eu me alegro. Então também é especialmente pra eles que eu escrevo.
Por isso, escrevo para interagir, pra desabafar, pra aprender, pra polemizar, pra registrar. Escrevo pra amar. E amo através das minhas palavras.

A minha conta de luz.

Hoje eu acordei menos filosófico. Já cansei de tentar entender as fomes da minh'alma, e já estou mais adaptado pra ter dias triviais, porém especiais. Assim, vamos ao que interessa. Eu me assustei com o aumento do consumo de energia elétrica aqui em casa depois que o frio chegou. A conta de luz quase que dobrou nos últimos dois meses. Na verdade, eu já tinha mudado a chave do chuveiro para o "inverno" há uns dois meses, desde que aquelas primeiras noites frias começaram a aparecer. Comentei com um amigo e ele me sugeriu que eu diminuísse o tempo gasto no chuveiro. Mas como? Eu gosto de relaxar e refletir justamente no chuveiro. Só o barulho da água, ninguém pra me encher o saco. Então esse amigo sugeriu: leve o notebook pro banheiro e programe pra que ele toque umas 3 ou 4 músicas. Enquanto as músicas vão tocando, você pode controlar melhor o tempo do banho e saber quando já está na hora de sair. Quando a última música terminar de tocar, o seu tempo terá se esgotado e você já deverá estar com o banho tomado. Vai treinando, você se acostuma. Fazia sentido. Embora eu ainda não estivesse contente com a idéia de ter que dimunuir o meu precioso tempo no chuveiro. Mas também não quis desprezar por completo a idéia do amigo. Afinal, amigos querem o melhor pra nós. Fiz a minha seleção com apenas quatro músicas: escolhi a versão original de Faroeste Caboclo, do Legião Urbana, I'll Do Anything for Love, do Meat Loaf, e mais duas musiquinhas da antiga banda Blitz. O tempo total da seleção musical ficou em menos de uma hora, média de quase 15 min. por música. A minha conta de luz ainda não diminuiu, mas a minha consciência ficou tranquila pois estou fazendo exatamente o que me recomendaram.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dias triviais, porém especiais.

Muitas vezes nós consideramos os nossos dias triviais. Achamos que a nossa vida caiu na rotina, está sem graça. Todavia, mesmo nos dias mais triviais, há acontecimentos especiais pipocando ao nosso redor a cada segundo. No meio da trivialidade há momentos significativos e belos. Mas é preciso enxergá-los. Infelizmente, quando nos focamos apenas naquilo que consideramos trivial, deixamos de enxergar e reconhecer o que é especial. É como se o nosso campo de visão e sentimento estivesse limitado por nós mesmos. A vida é feita de cores, cheiros, sensações, emoções. E a trivialidade dos nossos dias não impede que esses presentes da vida se manifestem. Eles estão vivos em tudo o que nos rodeia. Mas é preciso estar sensível para enxergá-los. Imagine uma pequena borboleta que pousa na sua janela, cujas asas possuem cores únicas, vivas, raras, belas. Uma simples borboleta, com cores e brilhos especiais. Até mesmo o vôo dessa borboleta pode ser visto como uma dança, um balé ao ar livre, colorido e brilhante, cheio de vida. Assim, até mesmo uma simples borboleta pode nos proporcionar momentos e sensações especiais durante alguns minutos de um dia antes visto como trivial. A mesma idéia vale para o barulho da chuva ou das águas de um rio, para o canto de um pássaro ou para a gargalhada de uma criança. Nós precisamos relaxar e nos permitir enxergar cada pequeno acontecimento especial nos nossos dias triviais. Nossos dias triviais podem ser especiais. Depende dos nossos olhos, dos nossos sentidos, da nossa vontade e do nosso foco. Cabe a nós a escolha: viver um dia trivial de forma trivial ou viver esse mesmo dia trivial de forma especial.

O amor pelo dinheiro.

Eu sempre tentei diferenciar a ambição da ganância. Sempre enxerguei a ambição como algo positivo e a ganância como algo negativo. Eu li um artigo que citava o economista inglês Keynes a respeito da diferenciação entre o amor pelo dinheiro como possessão e o amor pelo dinheiro em função das facilidades e do conforto que o dinheiro pode proporcionar. Acho injusto reconhecer Keynes apenas como economista, pois ele era um daqueles gênios que não se restringia apenas à economia, mas também se preocupava com a política, o direito, a sociologia, a história e até mesmo a psicologia. Keynes é conhecido como o pai da macroeconomia e é considerado umas das 100 personalidades mais influentes do século XX. Keynes influenciou Freud que, por sua vez, influenciou Keynes. Quando Keynes escreveu sobre o amor pelo dinheiro, ele se utilizou de estudos de Freud. Para Keynes, o amor pelo dinheiro como mera possessão era uma doença. Já o amor pelo dinheiro, tendo em vista os confortos e prazeres que ele pode proporcionar, é algo saudável. Nesse caso, o dinheiro é o instrumento, o meio para se atingir o objetivo que pode ser um prazer, uma facilidade ou um conforto. Se a busca pelo dinheiro for um fim em si, o indivíduo estará doente. Nesse sentido, é possível se caracterizar a ambição como a busca saudável por melhores condições de vida, através do dinheiro. Já a ganância seria a busca desmedida pelo dinheiro como mera acumulução de riquezas e bens. O que você busca? Dinheiro para uma vida boa? Ou dinheiro pelo dinheiro?

terça-feira, 8 de junho de 2010

As nossas fomes.

Nós buscamos o prazer. Desde que nascemos, vivemos uma busca constante pelo prazer. Temos fome de prazer. Prazer e dor são opostos. Prazer com dor, ou na dor, não é prazer; é desvio, é doença. Enquanto buscamos o prazer, temos fome. Temos fome de comida. Mas também temos fome de emoções, sentimentos, sensações, amor. Nossa alma e o nosso espírito têm suas fomes. E, enquanto essas fomes não são saciadas, sentimos dor. Uma criança recém-nascida tem fome de comida: o leite materno. Mas também tem fome de sensações, cuidado, atenção: o calor, o cuidado e o amor maternos. A criança sente dor, sente fome e chora até que sua fome seja saciada. Quando a dor causada pela fome se vai, a criança alcança o prazer. Nós adultos também sentimos dor e choramos, à nossa maneira, até que nossas fomes sejam saciadas e a nossa dor seja dissipada. Quando saciamos as nossas fomes e extirpamos as nossas dores, alcançamos o prazer. Não me refiro ao prazer por prazer, ao prazer superficial ou passageiro, mas ao prazer estável e duradouro, aquele que nos proporciona paz de espírito.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mudanças

Outro dia meu pai me chamou de retrógrado. Talvez tivesse sido mais leve se tivesse me chamado apenas de conservador. Conservador dá a idéia de alguém parado no tempo. Mas retrógrado é pior: dá a idéia de alguém que retroage no tempo.
Foi inevitável refletir sobre o assunto. E o otimismo que me mantem vivo me fez enxergar alguns aspectos positivos no comentário dele. Ou, pelo menos, a minha ótica foi positiva. Em primeiro lugar, a vida é constantemente sujeita a mudanças. Pra melhor ou pra pior. Não há como fugir disso enquanto estivermos vivos (até porque depois, dizem, é dessa pra uma melhor). Assim, só cabe a nós nos adaptarmos às mudanças que ocorrerão.
Há dois anos atrás eu passei pela mudança mais brusca de toda a minha vida. Por mais previsível que a situação geradora da mudança fosse, no fundo, a gente nunca espera que aquilo realmente aconteça. Mas aconteceu. Minha vida mudou absurdamente. No início, fiquei totalmente sem rumo. Tive que me adaptar em todas as áreas possíveis da minha vida. Em muitos momentos, achei que não fosse ter forças para sobreviver a tantas mudanças. Mas eu sobrevivi. Quase sempre a gente sobrevive. Já dizia Sêneca, o moço: "Silêncio, paciência e tempo". Tenho uma certa dificuldade em me manter em silêncio, mas gosto especialmente da parte que trata da paciência e do tempo. Acredito que com o tempo tudo se ajeita. E com um pouco de paciência tudo fica mais fácil.
Eu sei que é difícil manter a calma depois que uma crise já se instalou. Então o mais interessante talvez seja estar preparado para quando uma crise chegar, para quando a mudança estiver para acontecer, já que sabemos que elas serão inevitáveis, quase sempre inadiáveis, pois fazem parte da vida. Se estivermos preparados para as mudanças, vai ser muito mais fácil, rápido e menos traumático passar pelo processo de adaptação. E as chances de que essa mudança seja "para melhor" aumentarão consideravelmente. No meio do meu processo pessoal de adaptação às mudanças, eu tive que tomar várias decisões. Acertei em algumas, errei em outras. Mas, passados dois anos, agora eu posso reconhecer melhor o que realmente importa pra mim, o que realmente tem valor para a minha vida. E, talvez, por isso, meu pai tenha me chamado de retrógrado.
De fato, eu estou tentando retroagir e resgatar alguns princípios e valores que eu carreguei durante grande parte da minha vida, mas dos quais estive afastado durante os momentos difíceis. Também estou tentando resgatar amizades de infância, sonhos que eu tinha quando era criança. Eu estou retroagindo sim, mas apenas para resgatar as coisas boas e de valor que eu tinha deixado pelo caminho. No fim das contas, acabei aceitando o "retrógrado" como um elogio. Gostei.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ditadura branca.

Há poucas décadas atrás, era necessário um golpe de estado ou uma guerra para que uma ditadura militar fosse implantada em determinado país. Isso ainda é comum em países africanos, e volta e meia vemos nos notíciários um novo golpe de estado naquele continente. Uma das características das ditaduras é que o governante não responde à lei. Geralmente, com a queda do poder até então estabelecido, o novo governante golpista revoga a legislação em vigor e passa a governar de acordo com os seus interesses. Interessante que, geralmente, esses governos golpistas ainda tentam dar a impressão de que governam para o bem povo. No Brasil não há mais espaço para golpes de estado e instituição de ditadura. Ou melhor, golpes de estado ou ditaduras militares atualmente são desnecessárias no Brasil. Porque um presidente fecharia o Congresso, se quisesse dar um golpe e administrar o país ditatorialmente? É mais simples, menos traumático e menos escandaloso se dominar o Congresso através das trocas de favores com a divisão de cargos públicos aos partidos, mediante a manipulação do orçamento etc. Porque um presidente daria um golpe de estado e revogaria a legislação de um país para administrar exclusivamente de acordo com os seus interesses? Isso não é necessário. É mais simples, mais fácil dominar o Congresso para que a maioria do legislativo vote sempre de acordo com os interesses do governo, revogando o que não convém, e aprovando o que interessa. Porque um presidente fecharia ou interviria nos canais de televisão privados do país? É mais fácil comprá-los através dos milhões de reais gastos anualmente com a propaganda institucional do governo. Porque um presidente iria ameaçar, agredir, prender ou intimidar os cidadãos do país? É mais fácil conquistá-los tornando-os dependentes do governo através do bolsa escola, bolsa familia e tantas outras bolsas disponíveis para a população, de acordo com suas necessidades. O custo é bem menor do que no uso de armas. Ou seja, é muito mais simples se dominar um país e um povo através de uma "ditadura branca". Não há violência explítica, nem derramamento de sangue pelas ruas. Ditaduras militares estão fora de moda e mancham a imagem do governante perante a opinião pública internacional. Ainda mais no caso de um governante que se coloca como apto a assumir a secretaria geral da ONU, ou a direção geral do Banco Mundial, após deixar o governo. E o pior é que não há novidade nisso tudo, mas apenas a modernização no uso do bom e velho panis et circenses.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Retrato do cotidiano.

Eu cheguei a uma parada de ônibus perto da Plaza de la Revolucion, em Havana, e me assustei com a velha senhora que discursava para ninguém, falando bem alto, com uma voz forte e rouca, gritando palavras incompreensíveis. Era uma senhora de cabelos brancos, talvez nem tão idosa, mas com uma aparência bem sofrida e castigada pelo tempo. Enquanto ela falava, agitava um pedaço de papel em uma das mãos. Meu pai estava comigo e se surpreendeu quando eu me aproximei e me sentei bem ao lado dela. Meu sentimento era de receio, mas também de curiosidade e uma certa compaixão. Perguntei o que estava acontecendo, se ela estava com algum problema, e ela desandou a contar a história de sua vida. Enquanto ela falava e se emocionava, lágrimas corriam de seus olhos. Ela contava que sua vida tinha sido muito difícil desde pequena, e especialmente após a revolução. Tinha sofrido muito durante a infância, com seu pai. Depois, já adulta, o sofrimento continuou nas mãos de seu marido. Também disse que tinha sido torturada durante a revolução e que hoje tinha problemas psiquiátricos, e que estava voltando de uma consulta médica com aquela receita de medicamento na mão, mas que o remédio não tinha sido fornecido pelo governo e nem estava disponível em alguma farmácia da ilha, ainda que tivesse o dinheiro necessário para comprá-lo. Conversamos por quase meia hora, antes que o meu ônibus chegasse. No final da conversa, ela já estava mais calma, falava de forma mais pausada, como se tivesse desabafado. Aqueles minutos de conversa foram um privilégio pra mim. Retrato de um povo marcado pela dor e o sofrimento.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Interesse: interessado ou interesseiro?

Tudo na vida gira em torno de algum interesse. Mas isso não precisa significar algo negativo. Pelo contrário, é até saudável, inteligente e natural. A cada passo, a cada decisão que tomamos, temos que refletir sobre o que é bom pra nós, sobre o que queremos, sobre o que nos atrai ou o que nos faz sentir bem. Ou seja, sobre o que nos interessa. As pessoas tomam decisões de consumo baseadas em seus interesses, escolhem os destinos de viagens de acordo com os seus interesses, estabelecem círculos de amizade em função de interesses. Alguém que gosta de história vai escolher visitar Cuba ou a Itália; alguém que prefere as compras vai optar por Miami. Até aí, tudo bem. Insisto que isso é saudável, apropriado e normal. O problema começa quando as pessoas agem de forma descontrolada, desonesta, desrespeitosa e anti-ética pra atingirem os seus objetivos e satisfazerem os seus interesses. Costumamos denominar esse tipo de atitude como "interesseira". De forma simplista, poderia se dizer que é "fazer algo a qualquer custo" ou "passando por cima do que ou de quem quer que seja". Significa enganar, corromper, iludir ou se usar de qualquer tipo de artifício desonesto ou imoral para satisfazer um interesse (eu não vou entrar na discussão do que pode ser definido como moral ou imoral, mas levo em conta apenas uma idéia genérica de moralidade do homem médio). Uma pessoa interessada é diferente de uma pessoa interesseira. Uma pessoa pode se interessar por algo, mas não deve ser interesseira em qualquer situação ou circunstância da vida. São aspectos distintos e são posturas distintas que, por sua vez, geram comportamentos bem distintos. Quando tomamos uma decisão e assumimos que temos determinado interesse, devemos avaliar, antes de mais nada, se o benefício que será alcançado com a eventual satisfação daquele interesse pode gerar algum tipo de prejuízo na vida de alguém. Se chegarmos à conclusão de que, na satisfação do nosso interesse, existe o risco de causar prejuízo a alguém, é hora de repensar o valor do nosso benefício. É hora de pensar se esse interesse é digno e legítimo. A partir do momento em que alguém deixa de avaliar o possível impacto negativo de seus atos na vida dos outros, essa pessoa passa a agir de forma interesseira. E isso não é saudável, isso não é digno, não é ético e nem honesto. Não há virtude em uma atitude interesseira. E de que vale uma vida sem virtude?

terça-feira, 18 de maio de 2010

EUA x Irã

O governo brasileiro comemorou nos últimos dias a intermediação de um acordo nuclear celebrado com os governos do Irã e da Turquia. É óbvio que existe uma troca de favores entre o governo brasileiro e o governo iraniano. O governo brasileiro aparece como bom mocinho e tenta se credenciar ainda mais a uma vaga efetiva no conselho de segurança da ONU, enquanto o governo iraniano alivia a pressão internacional contra o país. Mas e os Estados Unidos? Onde entram nessa história? Para os EUA, esse acordo foi uma grande derrota política, pois perdem credibilidade, força e poder de negociação. Mas, muito mais que isso, perdem legitimidade para atacar o Irã, que é a vontade real dos EUA. Se o Obama tivesse perdido a eleição, certamente um governo republicano já teria executado esse ataque a essa altura do jogo. Agora resta aos EUA criticar e condenar o acordo. Mas, espere aí: a briga toda não era pra que um acordo fosse celebrado? Não era isso que os EUA tanto queriam? Pois bem, o acordo está aí. Agora vem os EUA afirmar que o Irã não vai cumprí-lo. A contradição e a incoerência dos EUA são absurdas. Queriam um acordo, pois achavam que nunca seria celebrado. Agora que há um acordo, alegam que não será cumprido. Mas só o tempo dirá se será cumprido ou não. E os EUA terão que conceder esse "tempo" ao governo iraniano. Jogada de mestre do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Celibato

A intenção aqui é abordar a questão do celibato de forma mais objetiva possível, deixando de lado ideologias ou paixões. Não importa a quem se atribua a criação e a evolução do homem, a Deus ou ao big bang, é fato que o homem possui órgãos reprodutores, é movido por hormônios, possui desejos e vontades guiados pelo seu cérebro. Essa é a fisiologia humana. Isso é fato. Imaginemos que exista um Deus ou um ser superior e criador que tenha formado o homem. É de se presumir que, se esse Ser tivesse a intenção de criar alguns humanos separados para o celibato, Ele, na sua imensa sabedoria, o teria feito de modo que alguns homens nasceriam sem os órgões reprodutores, ou não produziriam os mesmos hormônios comuns aos demais membros da espécie. Seria cruel se criar humanos como humanos e, depois, exigir que alguns seres se abstivessem de querer e sentir vontades e desejos de praticar atos para os quais foram criados em sua essência. Imagine alguém que foi criado e condicionado para ter sede e fome, mas que fosse pressionado para não sentir sede e fome, ou fosse impedido de ter sede e fome. Isso seria anti-humano. Deus não instituiu o celibato. Os homens instituíram o celibato. E a história deixa claro que os motivos pelos quais o celibato foi instituído não eram nem um pouco nobres. Pelo contrário, eram os mais materialistas possíveis. Não adianta querer argumentar que alguns homens simplesmente optam pelo celibato de forma espontânea e voluntária. Esses homens não sabiam o que enfrentariam na vida celibatária simplesmente porque ainda não tinham enfrentado esse desafio. Muitos foram pressionados pela própria familia, desde o seu nascimento, para optar por aquele caminho. E, após assumida a postura do celibato, esse mesmo homem não é mais livre para voltar atrás, pois, em seu íntimo, assumiu um compromisso perante a familia, perante os amigos, perante a igreja e a sociedade. O preço de voltar atrás seria muito alto. O risco de exclusão social e familiar seria imenso. A essência humana é contrária ao celibato. E, por isso, cedo ou tarde essa essência vai prevalecer. Ultimamente, têm se tornado cada vez mais comuns, ou mais públicos, os problemas decorrentes dessa tentativa de se lutar contra a essência do homem - contrária ao celibato. E os resultados são extremamente tristes para todos os envolvidos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Viagem no tempo

Eu não acredito que algum dia o homem consiga viajar no tempo. Ao passado ou ao futuro, não importa. Creio que será sempre impossível. Não apenas hoje, levando-se em consideração a tecnologia disponível, mas em qualquer época, mesmo no mais longínquo futuro. Eu não sou físico ou astrônomo, mas apenas um curioso que gosta de pensar. E o que eu penso em relação à viagens no tempo é simples. Vamos supor que, lá no futuro, daqui a 200, 500 anos, o homem alcançasse a tecnologia para viajar no tempo. Certamente, esse homem do futuro já teria voltado aqui ao nosso tempo pra nos visitar. Mas não temos qualquer tipo de registro ou mesmo indícios desse tipo de "visita" do futuro. Ainda que o homem de daqui a um milhão de anos alcançasse essa tecnologia, ja haveria em algum momento da nossa história algum registro dessas visitas de "volta ao passado". Mas não existe. Além do mais, estando no presente, pra nós o futuro não existe. E quando o futuro chegar, o nosso presente já terá se tornado passado e, por consequência, também não existirá mais. Ou seja, o passado não existe mais em qualquer circunstância. E presente e futuro não podem coexistir. Quando um (presente) está "vivo", o outro (futuro) ainda não existe. E, quando o outro chega, aquele já "morreu". Há que se considerar ainda algumas implicações de uma viagem no tempo. Por exemplo, se daqui a 200 anos o homem alcançasse essa tecnologia de viajar ao passado e resolvesse voltar ao tempo em que seu bisavô era jovem e, por algum motivo, interferisse tirando a vida de seu bisavô antes que este deixasse descendentes, o que aconteceria? Imediatamente aquele viajante deixaria de existir? Alguns físicos famosos que acreditam que um dia viagens no tempo serão possíveis afirmam que, nessas situações, universos paralelos seriam criados. Ou seja, haveria um curso principal do tempo, mas haveria também ramificações. Toda vez que houvesse uma interferência no passado, aquele passado se ramificaria de modo que o curso principal continuasse fluindo, e um universo paralelo surgiria com as mesmas pessoas e essas alterações e interferências, em forma de uma ramificação. Assim, a partir daquele momento, o universo prosseguiria através de duas realidades. E isso poderia ocorrer indefinidamente ou infinitamente cada vez que houvesse uma intereferência no tempo. Infinitos universos paralelos poderiam ser criados e poderiam coexistir. Simplesmente muito louco!!! Louco, quem? Esse papo? Sei lá. Esse é mais um assunto daqueles da série em que a minha mãe diz: "filho, você pode até pensar nessas coisas, só não conte aos outros".

domingo, 2 de maio de 2010

Pescar na "loca"

A palavra "loca" não consta dos dicionários de português. Provavelmente tenha origem indígena. Loca significa buraco, toca, local onde alguns animais se abrigam, entre eles, os peixes.
Quando eu era adolescente, eu costumava pescar na loca, no Ribeirão Lindóia, em Ibiporã. Era uma pescaria diferente, apenas com as mãos. A gente costumava entrar no córrego que media uns 3,00m de largura por 1,20m de profundidade, e tinha que percorrê-lo agachado, tateando por suas paredes até encontrar as locas ou buracos onde os peixes se abrigam. É interessante que, durante o dia, a maioria dos peixes se esconde nas locas e só sai pra se alimentar à noite.
Quando uma loca era encontrada, a gente tinha que tampá-la com as mãos até que aquele que tivesse o braço mais fino e comprido viesse para tentar apanhar os peixes. Em algumas locas havia apenas um único peixe de tamanho médio; em outras, diversos peixes menores. Geralmente, os peixes encontrados eram cascudos, acarás, tilápias e pequenas carpas. Sempre havia o receio de que pudesse haver alguma cobra escondida naquelas locas, mas a gente nunca teve o azar de encontrar alguma. Costumávamos passar horas durante as tardes descendo o córrego e pegando peixes com as mãos e só ficávamos satisfeitos quando conseguíamos uns 2 ou 3 Kg de peixes pra poder voltar pra casa e fazer uma bela "fritada".
Tenho saudades daquela época. Eu, o Kéco, o Migué e o Diogo. Às vezes outras pessoas nos acompanhavam, mas geralmente era esse o grupo. O Kéco é quem tinha o braço mais comprido e conseguia alcançar os peixes que tentavam se esconder no fundo da loca. Hoje o Kéco é instrutor de mergulho em Fernando de Noronha e deve levar uma vida duríssima. O Migué e o Diogo são empresários. Bons tempos aqueles.

sábado, 1 de maio de 2010

As toalhas pretas

Dias atrás eu tive a idéia infeliz de comprar um jogo de toalhas pretas. Toalha de banho, rosto e piso. Tudo preto. Que besteira! Ainda não consigo entender o que passou pela minha cabeça ao decidir comprar essas toalhas pretas. Acho que eu queria sair da mesmice. Toalhas geralmente são azuis, verdes, amarelas. Talvez eu tenha pensado que ficariam fashion no meu banheiro. Sei lá, talvez dariam um ar retrô. A meleca já começou na primeira lavagem. E que lavagem. Eu não sei de onde pode sair tanta tinta preta. É como se tivesse um depósito de tinta preta escondido em algum lugar secreto da toalha. Você pode enxaguar mil vezes que ainda continua saindo tinta preta. Elas têm que ser lavadas separadas das outras roupas, senão mancha tudo. Além de manchar, soltam fiapos. Pretos, obviamente. Tentei usar o jogo de toalhas nesses últimos dias, mas até a parede onde a toalha fica pendurada ficou preta. Me enxuguei com a toalha preta e ficaram fiapos pretos por todo o meu corpo. Até na minha barba "por fazer" tinha fiapos da toalha preta. A pergunta que não sai da minha cabeça: quem foi o imbecil que decidiu fazer toalhas pretas? Bem, deixa pra lá. Mais imbecil que quem "fez" as toalhas pretas foi quem "comprou" as toalhas. Vivendo e aprendendo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Deus?

Eu acredito em Deus. Acredito em sua existência. Tenho um relacionamento peculiar com Ele, recheado de dúvidas e crises. Mas eu não posso negar a sua existência em virtude de algumas experiências personalíssimas e sobrenaturais que eu já tive em minha vida. Ele simplesmente existe em minha vida. Ainda que o resto do mundo concluísse pela sua inexistência, para mim ele continuaria existindo. Só eu vivi o que eu vivi, só eu senti o que eu senti. Simples assim. Às vezes eu fico surpreso quando tenho algum contato com alguém que se diz ateu. Isso é até comum lá no curso de filosofia. Mas o que me deixa mais intrigado é a necessidade dessas pessoas de enfatizarem constantemente o fato de serem ateus. Como se isso não estivesse bem resolvido e tranquilo em suas vidas. Como se precisassem convencer a si mesmos o tempo todo. Falam, discutem, escrevem sobre o tema. Eu não acredito em saci, não acredito em sereia, nem em mula-sem-cabeça etc. Mas nem por isso eu vou passar a minha vida discutindo, reafirmando ou escrevendo sobre isso. Saci não existe e ponto final. Isso é tranquilo pra mim. Por outro lado, eu acredito na existência de cabeça de bacalhau, embora nunca tenha visto uma. Acho pouco provável que exista um bacalhau sem cabeça vagando pelo fundo do oceano. Ninguém vai admitir, mas a busca obcecada para se provar a inexistência divina traz em si um desejo camuflado de se confirmar o contrário. Sabe aquela história: "eu não acredito, mas vai que..." Ou seja, o cara se diz ateu mas, no fundo, tá carregado de dúvidas. Mas não vai admitir.

sábado, 24 de abril de 2010

Hoje

Hoje o sol está com um brilho diferente, você percebeu? Algumas nuvens querem escondê-lo, mas ele insiste em brilhar. Eu quero esse sol queimando o meu rosto, acompanhado de uma brisa leve e serena. Hoje eu quero pouco. Mas esse pouco hoje pra mim é tudo. E, quando a noite chegar e o sol se for, seu calor ainda estará vivo em mim. Então eu verei as estrelas, mesmo que elas teimem em se esconder atrás das nuvens. Eu quero sentir com a mesma força do brilho das estrelas. Brilho que se mantêm vivo mesmo quando as estrelas não estiverem mais ali.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A gente precisa acreditar mais

Todo mundo anda tão desconfiado, tão desanimado com as amizades e os relacionamentos. Parece que as notícias e as experiências ruins, que são minoria, acabam se sobressaindo sobre os acontecimentos positivos. Há uns 10 anos atrás, eu tive uma experiência bem interessante com o meu "chefe" no trabalho. Eu tinha sido transferido de cidade há apenas uma semana, e coincidiu de naqueles dias eu ter que passar pela avaliação anual, realizada pelo meu superior, já que eu ainda estava nos 3 anos do estágio probatório. Essa avaliação é feita pela chefia imediata, que depois a repassa ao servidor para que ele tome ciência da nota obtida. A minha surpresa foi imensa quando eu recebi aquela avaliação e percebi que tinha recebido nota máxima nos mais de 20 ítens. Não resisti e fui "tirar satisfação" com o chefe sobre o porque de ter sido tão bem avaliado, se ele mal me conhecia. Talvez até tivesse sido mais sensato que, excepcionalmente, a minha chefia anterior tivesse feito a avaliação. Aí veio a lição. Esse cara era uma pessoa estranha, meio irritada, com algumas manias, um cara fechado e de poucos amigos, mas depois eu descobri que tinha um coração gigante. Ele me disse que sempre partia do princípio de que todo mundo é bom. A grande maioria das pessoas é "gente boa", como ele dizia. Até o dia em que pisarem na bola comigo e começarem a perder pontos. Mas, até então, eu parto do princípio de que essa pessoa é nota 10. Ele dizia que optava por confiar nas pessoas. Hoje eu acho que, mesmo diante dos riscos, ainda vale a pena acreditar nas pessoas. Essa deve ser a nossa opção. Vamos acreditar que ainda existe muita "gente boa" nesse mundo. E aí sim, se eventualmente alguém "pisar na bola", a gente pensa no que fazer. Viver carregado de deconfiança faz mal à saúde. E a gente ainda corre o risco de perder grandes oportunidades na vida.

sábado, 17 de abril de 2010

Eu tenho cara de pobre

Eu tenho cara de pobre. É sério. Não que eu seja rico, eu não sou rico. Levo uma vida tranquila e comedida. Mas eu tenho a pobreza estampada na minha cara. Ou no meu jeito de me vestir e me comportar. É fato que a minha familia é de origem bem simples, e isso não é problema. Mas a forma como me tratam no comércio...
Eu vou tentar explicar. Toda vez que eu passo por uma vitrine, vejo uma roupa legal e cara (sempre a roupa ou sapato que me chamam a atenção são os mais caros da loja, é incrível!) e entro pra perguntar se tem o meu número, a mocinha engomada logo me retruca: "mas tem também aquele modelo ali óóó, que está na promoção, por R$49,00". Será que é tão difícil de entender que eu gostei daquela peça que eu vi na vitrine e não importa se é a mais cara?!? Depois, já no caixa, eu entrego o meu cartão de crédito, aviso que quero à vista, em parcela única. A mocinha não resiste: "mas moço, você pode parcelar a compra em até 84 meses". Moça, eu já disse que quero pagar de uma vez só. Não gosto de compra parcelada. Ou eu tenho dinheiro e compro, ou não tenho dinheiro e não compro. E só uso o cartão de crédito pra não ter que carregar dinheiro no bolso e poder acumular milhas na companhia aérea.
O pior de tudo é quando eu vou a uma concessionária de veículos. Às vezes eu e o meu pai entramos numa concessionária só pra dar uma olhadinha, por curiosidade mesmo. Os caras simplesmente nos ignoram. Absolutamente ninguém vem nos atender. Eu fico imaginando: será que está escrito na minha testa que eu estou ali só por curiosidade? Será que os caram leem o meu pensamento? Mas e se eu estivesse ali pra comprar um carro? Acho que eu teria que gritar ou implorar pra ser atendido.
A única explicação que eu encontro pra ser atendido dessa maneira, além da minha cara de pobre, é o fato de eu andar vestido de forma beeeeem casual quando não estou trabalhando. Basicamente jeans, camiseta e tênis. É assim que eu me sinto à vontade.
De qualquer forma, eu sempre tento encontrar um lado bom em todas as coisas. E eu descobri que ter cara de pobre também tem as suas vantagens. Ninguém te inveja ou fica com olho gordo em você; raramente alguém vem te pedir dinheiro emprestado. Às vezes, até me perguntam se está tudo bem com a minha vida financeira.
Eu já ia encerrar esse papo, mas me lembrei de uma história engraçada. Eu nunca liguei muito pra carros. Prefiro economizar dinheiro pra uma viagem, do que pra trocar de carro. Hoje eu tenho um carro bom e semi-novo, mas é muito mais por necessidade e comodidade no trabalho, do que pelo carro em si. Há alguns anos atrás eu tinha um Fiat Uno, branco e simples (carro barato, não exige muita manutenção), e eu estava conversando com um tio. Ele começou com uma conversinha estranha, meio sem jeito, engasgando com as palavras, e me perguntou porque eu andava de Uno. Achei engraçada a preocupação dele. Me perguntou se eu não tinha dinheiro pra comprar um carro melhor, se o meu pai não poderia me ajudar, se eu estava com dificuldades, precisando de ajuda. Caramba!!! Só porque eu andava de Uno??? O Uno me satisfazia, não me dava dor de cabeça e nem muita despesa. Era ideal pras minhas necessidades. E até aquele momento eu não tinha experimentado nem sido seduzido pela direção hidráulica e o ar condicionado.
As pessoas se preocupam com a aparência. E nos tratam de acordo com a nossa aparência. Confesso que isso não me incomoda tanto. Mas uma coisa é fato: a minha cara de pobre continua aqui, não tenho como negar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O homem e suas tragédias

Você sabia que o recente terremoto do Chile foi aprox. 25% mais forte do que o terremoto do Haiti? Mas o número de vítimas no Chile foi aprox. 500 vezes menor? Parece contraditório, né?!? O grande número de vítimas no Haiti se deu principalmente em virtude da baixíssima qualidade das construções existentes no país. Ou seja, se houvesse fiscalização e controle de qualidade das edificações por parte das autoridades do Haiti, a tragédia teria sido bem menor. Já no Chile, um dos países mais desenvolvidos da América Latina, a situação foi bem diferente. Muitas casas racharam e até foram condenadas, mas não chegaram a cair esmagando as pessoas. Assim, a diferença entre as duas tragédias foi por conta da qualidade das obras, fiscalização e controle das edificações, das políticas públicas voltadas à habitação etc. Mas onde eu quero chegar falando tudo isso? Eu quero fazer um gancho com a tragédia ocorrida no Rio de Janeiro com as chuvas. Foram "apenas" chuvas. Não foi terremoto, nem tsunami, nem tufão, nem tornado. Quando se constrói uma edificação qualquer, uma das primeiras coisas a se fazer é a "correção" do terreno, através da terraplanagem, aterro, muro de arrimo e por aí vai. Tudo com a fiscalização do poder público; nesse caso, secretaria municipal de obras, CREA. E essa fiscalização e controle vai culminar com a concessão do "habite-se" no final da obra. Agora vejamos a situação do RJ. Como se fazer a "correção" de um terreno que fica numa encosta de morro, em área proibida e de preservação ambiental? Área que, se a vegetação for retirada, ficará suscetível a deslizamentos. Nem há muito o que comentar. Simplesmente impossível. E quem deveria zelar por tudo isso era o poder público, que foi omisso durante décadas. Desculpe a frieza, mas o poder público e a população do RJ "plantaram" durante muitos anos. Agora "colheram". Infelizmente. Simples assim.

domingo, 11 de abril de 2010

Esse mundo é pequeno

Três coisas que eu tenho observado com atenção desde o início da minha adolescência, e que mexem bastante comigo, podem ser resumidas através de três frases: esse mundo é pequeno; esse mundo dá voltas (gira); esse mundo gira mais depressa do que a gente espera ou imagina. Sim, eu sei que esses ditados são antigos. Mas são muito reais e atuais.
É engraçado como as coisas acontecem. Eu vivo numa cidade de aprox. 500 mil habitantes. Ou seja, nem tão grande, mas também não tão pequena. E é incrível como a gente "tromba" com conhecidos pelas ruas da cidade. No meu caso, acho que eu nem conheço tanta gente assim pra justificar esse tipo de acontecimento. Mas, geralmente, quando vou ao shopping ou a qualquer restaurante, sempre há alguém pra cumprimentar. Dá até a sensação de que sempre há alguém de olho em você.
Às vezes nos sentimos injustiçados. Mas, logo em seguida, vem um acontecimento que coloca as coisas no lugar. Alguns filósofos diriam simplesmente que é o cosmos ou o universo, em sua perfeição, acomodando as coisas e dando a cada indivíduo aquilo que merece. Os cristãos diriam que é Deus exercendo a Sua soberania sobre a terra. Mas, independentemente da crença, o que mais surpreende é a velocidade com que as coisas acontecem.
Num dia o cidadão está rico; na semana seguinte perdeu tudo, está falido. De repente recém-casados e felizes; dali a um mês, frustrados e em processo de separação. Hoje, um político de sucesso; amanhã, humilhado e envolvido num escândalo. O mundo sobe e desce. Esquenta e esfria. No fim das contas, esse papo me lembrou de outra máxima: nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. E muito depressa.