sábado, 24 de julho de 2010

O meu porquinho.

Quando eu tinha uns dez anos de idade e ainda morava em uma casa, em Ibiporã, eu e minha familia fomos passar um sábado na fazenda de uns amigos pra fazer churrasco e pescar. Era uma fazenda grande e cheia de animais, à beira do Rio Tibagi. Lá havia uma "porca" que tinha dado cria fazia pouco tempo; os leitõezinhos ainda não tinham desmamado. Eram porquinhos "caipira", daqueles malhados, bem bonitinhos. Eu passei aquele sábado inteiro com um daqueles porquinhos no colo, brincava como se fosse um cachorrinho. Na hora de ir embora foi aquela choradeira, eu não queria largar o porquinho. Então o proprietário da fazenda disse que eu podia ficar com o porquinho, que era um presente. Meus pais fizeram cara de "fim de mundo", mas me deixaram levar o porquinho pra casa. Chegando em casa, eu e meu pai preparamos um cercadinho com um resto de tela e madeira que havia no quintal. Nas três manhãs seguintes, eu acordei cedo e fui até a quitanda que havia na esquina pra pegar restos de vegetais pra alimentar o porquinho. Até que... o porquinho sumiu. No terceiro dia havia um buraco na tela e o porquinha tinha desaparecido. Procuramos pelo quintal e nada. Até que começamos a ouvir uma gritaria na rua, em frente da casa. Era o porquinho. Saímos atrás dele pelas ruas da cidade. O bichinho disparou em direção à avenida principal, que ficava a umas duas quadras da minha casa. No meio do caminho, um susto: o porquinho entrou embaixo de um ônibus que descia a minha rua. Eu cobri os meus olhos e já começava a chorar quando o infeliz (quer dizer, a infeliz - era fêmea) saiu correndo pela traseira do ônibus. Ela passou por baixo do ônibus de ponta a ponta, sem se machucar. Algumas pessoas que caminhavam pela calçada tentavam ajudar a agarrá-la por onde ela passava, mas era em vão. Até que, chegando próximo da praça da igreja matriz, havia um ponto de taxi, e os taxistas que conversavam na calçada fizeram um cerco e capturaram a porquinha pra mim. Voltei pra casa feliz, com a porquinha nos braços. Em casa, meu pai me convenceu de que a porquinha iria crescer muito e que os problemas aumentariam proporcionalmente ao tamanho dela, ainda mais se considerarmos que não é uma boa idéia se criar um porco no quintal de uma casa, no centro da cidade. A solução foi levar a porquinha pro sítio de uns conhecidos onde ela seria criada com a condição de que, assim que atingisse um bom peso, seria sacrificada e a carne seria dividida: metade pra nós, metade pro pessoal do sítio. O final seria um tanto trágico, mas eu concordei. Nos próximos seis meses eu fui àquele sítio algumas vezes, mas nem quis chegar muito perto da porquinha por causa do apego. Mas até que não foi tão difícil me desapegar dela porque ela cresceu muito rápido e ficou enorme, irreconhecível. Após seis meses, foi sacrificada quando pesava 90 Kg. O pessoal do sítio ligou avisando que traria a carne num sábado à tarde. Pra nossa surpresa, trouxeram a porca inteira; não aceitaram ficar com a metade dela, conforme tinha sido combinado. Lembro que minha mãe colocou uma mesa no quintal e passou a tarde separando as partes do animal pra facilitar o congelamento. Alguns vizinhos também ganharam um pouco de carne. Essa foi a história do meu porquinho. Quer dizer, porquinha.

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