quinta-feira, 24 de junho de 2010

O país do futebol.

Eu sonho em um dia viver no país da educação. Ou no país do meio ambiente. No país da justiça social. No país da saúde. No país da industrialização. No país da honestidade. No país do índice zero de mortalidade infantil e de 100% de alfabetização.
Mas a minha realidade é bem diferente. Eu vivo no país do futebol. No país do samba e do carnaval. No país da violência e da corrupção. Pra alguns, viver no país do futebol e do samba é motivo de orgulho. Eu sinto apenas vergonha.
Até hoje eu não vi uma grande mobilização no país para se lutar pela melhoria da educação, do ensino público. Apesar de algumas melhoras na área da saúde como o baixo índice de fumantes, a erradicação da paralisia infantil etc, eu nunca vi uma mobilização tão grande como acontece em tempos de copa do mundo. Nunca vi uma grande mobilização na luta pelo fim da corrupção, com pequenas e pontuais exceções.
Futebol é apenas futebol. Vinte e dois homens correndo atrás de uma bola. Suados, fedidos, violentos. Não consigo enxergar muito além disso. A não ser quando leio os números que envolvem o futebol. Ou quando vejo a grana que a Fifa, a CBF, os patrocinadores, as TVs, os jogadores ganham com o futebol. Mas não vejo a população recebendo qualquer benefício direto com o futebol. Chegamos ao absurdo de, dias atrás, o Lula ter editado uma medida provisória isentando as empresas envolvidas com a copa de 2014 do pagamento de impostos. E isso vale, inclusive, para os canais de TV, além de CBF, Fifa etc. Ninguém vai pagar imposto se "alegar" que aquela atividade tem a ver com a copa de 2014. Vai ser uma festa! Mais uma. Eu cheguei a ficar com pena da Fifa e da CBF, pois os coitados quase não arrecadam dinheiro com o futebol e realmente precisavam de alguns incentivos. Eu trabalho e parte do meu salário fica "retido na fonte" para o pagamento de impostos. Mas a Globo não vai pagar impostos sobre qualquer coisa que tiver alguma ligação com a copa de 2014. Pera lá: não tô entendendo!!!
Mas voltando a falar de futebol. Alguns dizem que é a paixão nacional. Eu não quero parecer esnobe, mas eu tenho outras paixões: música, natureza, educação, gastronomia. Até gosto de assistir a jogos de basquete, mas em hipótese alguma eu deixaria de trabalhar ou fecharia o meu comércio por causa de um jogo.
Mais interessante ainda é a festa que uma parte da população faz nas ruas da cidade após a vitória em algum jogo ou final de campeonato. Muita buzina, fogos, gritaria, bebedeira, garrafas quebradas. Eles estão comemorando uma vitória numa partida esportiva? Ou estão desabafando??? Isso mesmo: desabafando. O cara tem que ser muito reprimido na vida pra comemorar daquela maneira. Isso é sério, grave.
Me lembrei de mais um fato interessante. Na época da ditadura, toda vez que o governo começava a enfrentar baixos índices de popularidade, eles tratavam logo de promover um "torneio quadrangular" com a seleção brasileira que, obviamente, era a campeã do torneio. Todo mundo ficava feliz e comemorava durante algumas semanas. E, com isso, os ditadores ganhavam mais alguns meses de sobrevida no poder até com uma certa tranquilidade. De novo a velha fórmula do panis et circensis. O tempo passou. Dizem que a ditadura acabou, que o Brasil quer ser um país grande. Mas a minha ficha ainda não caiu. Prefiro continuar com os pés no chão, sonhando apenas com um país melhor. De verdade.

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