quinta-feira, 17 de março de 2011

O país do carnaval.

Recentemente eu escrevi sobre o país do futebol, e é provável que eu reproduza aqui alguns argumentos já utilizados naquele texto, pois são assuntos que, mesmo indiretamente, acabam se conectando.
Dizem por aí que eu vivo no "país do carnaval". Mas, como diria Luther King, "I have a dream", e o meu sonho é o de viver no país da educação, do meio ambiente, da excelência em saúde, do índice zero de mortalidade infantil, no país da moralidade ou simplesmente no país da igualdade. Mas não é essa a realidade do meu país, o "país do carnaval".
Eu vou além. Eu vivo numa cidade de 500 mil habitantes. Dias atrás, a imprensa local divulgou como "números oficiais" que as festas populares ligadas ao carnaval e que tiveram, de alguma forma, apoio do poder público reuniram menos de 500 pessoas. Ou seja, menos de 0,01% da população. Alguns chegaram a colocar a culpa no mau tempo. Mas será que a pessoa que realmente gosta de pular o carnaval deixaria de fazê-lo por causa da chuva?
Na minha opinião, Londrina definitivamente não é a cidade do carnaval. O Estado do Paraná também não deve ser o estado do carnaval, pois em todo o estado as festas foram escassas. E todos sabemos que a esmagadora maioria da população, tanto de Londrina como de todo o estado, aproveitou o feriado pra viajar ou descansar, mas não pra pular o carnaval. Talvez isso também tenha se evidenciado na maioria dos estados brasileiros, com as exceções pontuais do Rio de Janeiro (capital), Bahia (capital) e um ou outro estado do nordeste. Isso é fato. É interessante frisar que praticamente qualquer show de rock, MPB ou mesmo sertanejo costuma reunir mais de 500 pessoas em qualquer apresentação. E isso não acontece apenas no Paraná, mas - agora sim - na maioria dos estados brasileiros. E nem por isso o Brasil passou a ser tão fortemente conhecido como o "país do sertanejo", o "país do rock'n roll" ou o "país da MPB". Longe disso. Continuamos conhecidos como o "país do carnaval".
Vale a pena registrar, ainda, que o poder público investe recursos públicos no carnaval, especialmente no RJ e na BA. Sim, o direito à cultura é garantido pela constituição e é dever do Estado fazer esse tipo de investimento. Assim, como o direito à saúde, educação, moradia etc. Mas será que não deveria existir alguma forma de prioridade? Se eu morasse na Suécia ou na Finlândia e tivesse saúde e educação de excelente qualidade providos integralmente pelo Estado, eu seria o primeiro a ir pras ruas defender o investimento em cultura, principalmente se for cultura histórica e popular e que envolvesse uma "grande" parcela da população. Não uma festa celebrada como feriado nacional, mas que efetivamente envolve talvez não mais do que 0,01% da população. Sem contar que há registros oficiais que demonstram que o período do ano em que há mais acidentes nas estradas, homicídios, transmissão de DSTs e gravidezes indesejadas de adolescentes e jovens é justamente nesse período. Por que será? Uma festa popular, histórica e cultural não deveria ser mais "pacífica", "educativa" ou "conciliadora"? Mas não é. Isso também é fato.
Faltam prioridades, transparência, seriedade. Sobram populismo e hipocrisia. Enquanto isso, "viva o carnaval!!!".

2 comentários:

  1. Olá, Rogério!
    Conheci seu blog por acaso e gostei muito do que li por aqui. Temos muitas ideias em comum. A respeito do carnaval, considero uma festa decadente e pobre (pobre de espírito, de cultura). Tive o desprazer de assistir a um trecho de um desfile do Rio (pela TV) e vi muitas crianças e pré adolescentes na avenida, em plena madrugada e sambando ao lado de mulheres semi-nuas. Que excelente educação né! Isso pra citar só um exemplo, tenho uma lista de críticas interminável...
    Um grande abraço, e prazer em conhecê-lo!
    Alice.

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  2. Foi muito bonzinho e prudente em suas palavras.
    Diria que o Brasil camufla um "mercado" informal por trás do Carnaval. E que as nossas crianças, cada vez mais deixam de se interessar por cultura e educação em um país em que um analfabeto foi presidente, e em que uma prostituta merece virar filme. Não sou moralista, mas gosto de refletir em como isso tudo é incutido na mente dos jovens e crianças, e como é difícil, nos dias de hoje, educar nossos filhos.

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